Thursday, December 28, 2006

A metade que faz de mim um todo

Abençoada. É assim que me sinto hoje. Sempre evitei exprimir com as letras todas os meus estados de alma. Tanto de alegria como de tristeza. Por pudor. Mas também porque aprendi que assim devia ser.
Sempre ouvi: “Não fales da tua dor porque há sempre alguém que se vangloria.” Ou: “Não abras a tua felicidade porque desperta inveja e maus sentimentos.”
Confesso que estes dogmas me acompanham desde que me entendo como ser que sente e pensa. E determinam, de certa maneira, a minha forma de estar. Mas acho que já é tempo de os mandar dar uma volta. Nem que seja por um bocadinho. De vez em quando.
Se estou feliz, que mal tem em gritar ao mundo? O propósito não é afrontar ninguém. É mais o de acender uma luzinha nos corações dos que me ouvem...
E hoje apetece-me dizer com toda a sonoridade. SINTO-ME ABENÇOADA. ENCONTREI A METADE QUE FAZ DE MIM UM TODO.

Thursday, December 14, 2006

Falta um grande chocolate na minha vida

Estou tão triste que não consigo segurar as lágrimas nos olhos. Escorrem-me, galopantes, pelo rosto. Salgadas. Quentes. Corrosivas. Ferem-me sem dó a pele sensível. Mas, à medida que brotam, a dor que mal seguro torna-se menos doída. Ainda assim, mantém-se no limiar do suportável. Ou seja, quase a resvalar para o desespero.
Tudo isto porque sou pateticamente sentimental. Sou, de resto, como todas as mulheres (e homens) que sofrem de amor. Da falta dele, melhor dizendo. Corro desenfreada atrás daquilo que teima em fugir. E recuso aceitar o curso natural das coisas. Recuso admitir que as emoções são efémeras. E que estar só não é necessariamente mau. E não é mesmo. Pode até ser gratificante. Sobretudo, pelo espaço gigantesco que inaugura nas nossas vidas. Espaço de ócio e lazer. Estou farta de saber que assim é. Mas, na verdade, comporto-me como se não soubesse. Talvez a auto-comiseração seja o único estádio que me é permitido experimentar no momento. Prefiro acreditar que não. Mas, entretanto, nada tenho feito para contrariar esta inércia. E deixo-me estar cheia de pena.
Tanta pena que me esqueço de tirar proveito da coisa boa que é ser senhora de mim o tempo todo. E comer todos os chocolates que a alma pede sem temer que as ancas cresçam. E jantar uma sandes simplesmente porque me apetece ou estou sem vontade de cozinhar. E descurar a depilação sem me sentir o lobisomen ou recear que me franzam o sobrolho em sinal de protesto. E ser dona do comando da televisão para ver os disparates que entender sem negociar nem deixar ninguém amuado. E deitar-me à hora que quiser sem que uma voz (por vezes impertinente) me chame para a cama. E flirtar em todas as festas e encontros sociais sem que a culpa tome conta de mim. E não ter de esclarecer mal entendidos quase todos os dias a fim de acalmar as susceptibilidades do outro. E vestir pijaminhas quando o frio chega sem querer saber se é ou não um verdadeiro anti-tusa.
E tantos outros pequenos e grandes confortos aguardam que os desfrute. É o que vou fazer. Assim que conseguir apaziguar as feridas do meu amor próprio. Para já, vou comprar um grande chocolate e comê-lo todo sozinha. Até sentir a garganta a arder. E o coração encher-se de doçura.

Thursday, November 02, 2006

Acho que devo a sanidade mental à escrita. Aos desabafos que faço, escrevendo. Só assim consigo lavar a alma. Ou deixá-la mais aliviada. Muito graças a esta catarse aparento ser uma pessoa equilibrada. Ou quase. E vou seguindo sem grandes sobressaltos. Do lado de fora. Ou melhor, vista do lado de fora. “A melhor maneira de saber quem somos, muitas vezes, é tentar perceber como os outros nos vêem.” Quem diz é o romancista brasileiro Paulo Coelho. Até concordo com a observação. Seja como fôr, do lado de dentro (onde me encontro a maior parte das vezes) é diferente.
É raro o dia em que não me confronto com novos desafios. A uns, agradeço a elasticidade mental e o crescimento interior. A outros, lamento os tormentos. E contra estes luto. Embalada nos alentos que desperto em mim. Nunca ninguém disse que viver era fácil. Mas há quem viva de forma mais serena. Menos doída, pelo menos. Sempre pensei que tranquilos eram os pobres de espírito. Aqueles que não questionam. Aqueles que aceitam o que a vida lhes dá. Aqueles que desconhecem e nada fazem para conhecer.
Não quero ser pobre de espírito mas busco a quietude. Um dia atrás do outro...

Wednesday, September 27, 2006

Amor é…

Apeteceu-me teorizar sobre o Amor. Bullsheet. O amor é o sentimento mais inextricável que existe. O amor não se explica. Vive-se. Vive-se, simplesmente. Com mais ou menos intensidade. Com mais ou menos momentos fantásticos. Conforme a sorte. Conforme a vontade. Conforme o esforço das partes...
Se se explicasse, não havia corações partidos. Nem amores desencontrados. Nem amantes infelizes. E também não havia paixões arrebatadas. Nem volúpia. Nem passarinhos a cantar.
Um dia, alguém me disse que amor é uma mistura de amizade e sexo. Na altura, senti-me ameaçada. Achei o conceito primário. Redutor. Ofensivo mesmo. E não me cansei de esgrimi-lo com as minhas “verdades” emocionais.
Hoje, admito, é o mais próximo do que julgo ser de facto o amor. Mas juntaria outra às duas premissas: a magia. O “je ne sais pas quoi”, o transcendente, o inexplicável. É isto que faz do Amor a fonte maior de inspiração. O alimento dos poetas. A luz dos artistas. O riso. E as lágrimas dos amantes.

Friday, August 25, 2006

Estou a deixar a “casa de bonecas”. O meu reduto. A minha fortaleza. O único espaço que foi só meu. E que geri ao sabor dos meus projectos, sonhos e caprichos.
A partir de agora, vou partilhar de novo os dias e as noites. Com o meu amor. Que já era. E por quase deixar de ser descobri a minha casa. Que já não é.
Estou cheia de nostalgia. É como se fosse a primeira vez. Esta coisa de viver a dois. Experimento um turbilhão de sensações. Excitação. Arrepios no estômago. Pulsações aceleradas. Medo. Insónias. Irritação. Mas, sobretudo, motivação. Para contrariar o cliché: um passo à frente no amor, dois passos atrás na paixão. E vontade. De não abdicar do meu espaço. Nem açambarcar o do meu amor. E esperança . De não voltar a mergulhar no marasmo. E sonhos. De ser feliz.

Monday, August 21, 2006

Carta ao meu amor

Sabes amor, hoje acordei triste. Triste, triste, triste. Tudo à volta era cinzento. Adormeci num soluço. Com a falta do teu beijo. O beijo fôfo que me dás todas as noites. A acompanhar os votos de bons sonhos. Esta noite, esqueceste-te do beijo. Não há razões para fazer dramas. Eu sei. Estavas cansado. Tiveste um dia complicado. Ainda por cima, esperaste por mim algumas horas. Estavas contrariado. Percebo tudo isso. Agora vê se me entendes... Esta manhã, não me apeteceu ir ao encontro dos teus braços escancarados. Mais, a mágoa que tinha virou raiva quando percebeu a vontade de me envolveres num abraço. Todo dengoso. Todo lânguido. Indiferente à minha sensibilidade.
Sabes amor, estou longe de ser perfeita. Quando estou magoada não consigo fazer como se nada fosse. Sempre que o faço para fora, cresce em mim uma dor galopante por dentro. Daquelas que abrem um fosso tremendo (entre nós). Por outro lado, quando reajo, reajo mal. De forma quase primária. Não consigo dosear a explosão. Ainda não aprendi a arte do disfarce. Não em matéria de amor. Não queria dizer-te o que disse. Fi-lo para vingar a minha dor pequenina. Escavei uma dor maior. Feita da minha e da tua. Sabes amor, peço desculpa...

Thursday, August 10, 2006

Faz-me acreditar


Amor, tenho medo
Muito medo
De esquecer o amor que te sinto
E perder o amor que me sentes
Muito medo
De acordar triste
E longe do encantamento
Amor, tenho medo
Muito medo
Deixa o tempo adormecer
Sem hora para despertar
Muito medo
Aperta os teus braços
À volta do meu medo
Enche-o de ti
Enche-o de ímpeto e alegria
Amor, tenho medo
Muito medo
Diz que somos eternos
Faz-me acreditar que o medo não existe.

Tuesday, August 01, 2006

Desis(ti)

Ontem
Esperei por ti a noite toda
E toda a noite
Ouvi o silêncio
Insurdecedor
Inquieto
Ingrato
Alheio à minha saudade
Alheio à minha dor
Alheio à minha necessidade
Em desepero
Odiei-te
Odiei-te
Esqueci-te.

Wednesday, July 26, 2006

Um dia vou ser capaz

Um dia vou ser capaz...
De dar apenas o que mereces receber.
De contar apenas com o que podes dar.
De perceber que não és comigo
A projecção do que sou contigo.
Um dia vou ser capaz...
De não questionar as nossas diferenças.
De entender que o teu sentir
Não é decalcado do meu.
Um dia vou ser capaz...
De pedir-te absolutamente nada.

Monday, July 24, 2006

Somos mais felizes quanto mais “tolos” somos. Os problemas surgem quando temos noção do que se passa. Da maldade, do ridículo, da mentira, do escárnio, da deslealdade... Enfim, de tudo o que nos impede de sermos realmente felizes. Sem essa consciência, tudo é lindo. Tudo é fácil.
Conheci uma triste menina alegre, a Joana. Tal é a suplece com que encara tudo o que faz, costumam chamá-la de “Joana no País das Maravilhas”. Vive como se nada fosse consequência de nada. Ou melhor, sem a menor preocupação com o “devir” dos actos. Seus e das pessoas que a envolvem. Fala, ama, faz sexo e usa aditivos com a mesma leveza que respira. E segue a vida numa vertigem quase insana. Apenas a galope dos seus caprichos. Sem quaisquer filtros. Sem moral. E, por vezes, até sem respeito pelos códigos sociais.
Tão parecida comigo quando tinha dezoito anos. Tão diferente de mim agora, com trinta e sete e talvez um pouco menos feliz.
Não quero voltar a ser como a Joana, pateticamente encantada com a vida. Não pretendo alhear-me do mundo para poder viver nele. Não me apetece fazer essa regressão. O caminho faz-se caminhando. Para a frente. Ou noutra direcção qualquer. Mas nunca para trás.
A minha vontade é conciliar-me comigo. Espiritualmente. E, tal como o Siddartha de Herman Hess, encontrar um santuário dentro de mim. Um refúgio “abençoado” para recolher-me sempre que a vontade quiser. E a alma precisar. Só assim vou encontrar a via da serenidade. Quase não tenho dúvidas. Vou ser mais feliz quanto menos “tola” for.

Thursday, July 20, 2006

Amor sem amor se apaga

“Amo-te muito, muito, muito...”
Ela deixou de acreditar na melodia das declarações dele. Quem ama cuida. Ele não fez isso. Nunca. Ela esperou pelos sinais. Do amor. E do respeito. Esperou tanto que ficou com dúvidas. Muitas dúvidas.
Um dia, acordou angustiada. Antes de sair – talvez para sempre – deixou-lhe uma nota. “Desculpa, mas amor alimenta-se de amor. Preciso de olhar para dentro de mim e perceber o que sinto. Pela primeira vez, questiono os meus sentimentos por ti. Era desleal ocultar-te isto.”
Pouco depois de chegar e aterrar no sofá, ele descobriu a mensagem. Leu-a vezes sem conta. Mas deixou-se ficar. Quieto. Ela não voltou mais.

Monday, July 10, 2006

Já disse hoje....

Já disse hoje que te amo muito, muito, muito?
E que és o ser da minha existência?
E que pensar em ti é tesão?
E que quando não estás fico num desassossego de alma?
E que as saudades vêm potenciar a enormidade da minha paixão?
E que durmo abraçada à almofada para te sentir mais perto?
E que beijo os meus braços fingindo serem os teus lábios a fazê-lo?
E que amar-te é o minha droga predilecta?
E que sou incapaz de passar às palavras a vertigem que me despertas?
E que fecho os olhos vezes sem conta para sentir o cheiro da tua nuca?
E que estou a contar os minutos de todas as horas à espera de ver-te chegar?
E que não acredito haver amor maior do que o nosso?
E que os meus olhos humedecem quando penso que quase nos perdemos?
E que graças a ti sou hoje uma pessoa melhor?
E que quero morrer antes do nosso amor acabar?
E que estou a chorar?

Friday, July 07, 2006

Os meus irmãos e eu

Cinco
eu e os meus irmãos
tão diferentes na forma
tão iguais na essência
cinco
irmãos de sangue
nome e coração
cinco
tão perto uns dos outros
apesar da distância de lugar
querer e estar
cinco
eu e eles
diferentes na atitude
decalcados no amor que sentimos.
  • A noite

    A noite é sublime
    quando te encontro
    pelos caminhos que sigo
    a noite é sublime
    quando sabores a álcool, saliva e suor
    se confundem no meu gosto
    a noite é sublime
  • quando as tuas mãos me procuram
    e os nossos olhos dizem
    o que não precisam de falar
    a noite é sublime
    sempre que te reinvento nela.

Thursday, June 29, 2006

O lado errado

Vivo do lado errado. Por inércia ou falta de coragem de ir ao encontro do outro lado. Tudo podia ser diferente. Não é. Muitas vezes, por ausência de querer. Quebrar instalações exige esforço.

Wednesday, June 28, 2006

O nosso amor
é um barco à deriva
num mar de tempestade
e ruma contra os ventos
em braços de ferro derrotados
o nosso amor
é um ser maldito e atormentado
à procura de tranquilidade
já quase a desistir
apesar da esperança pintada
no imenso verde dos meus olhos
o nosso amor
é um animal sedento e moribundo
sem nascentes por perto
seco, tão seco e desenganado
sob a antevisão da morte que chega.

Este país não é para velhos

O meu espaço de sossego em dia de tpm é interrompido pelo “desbafo” (como diz uma amiga from London) da senhora que acaba de sentar-se à minha frente no metro.
- “… Este país não é para velhos, menina. Desculpe, não sei se é menina se é senhora. Como não usa aliança presumo que seja menina. Antigamente era mais fácil perceber. Agora está tudo misturado, meninas e senhoras.”
- “Sou menina.”, confirmo a sorrir. A minha mãe costuma dizer que hei-de ser velhinha sem querer ser senhora.
- “A vida tá cada vez pior... Uma desgraça. Esta coisa do euro veio estragar tudo... Imagine que agora, fazendo as contas, um molho de grelos custa quatrocentos e tal escudos! Antes, com esse dinheiro eu ia à mercearia e trazia dois ou três sacos de compras.
Sabe menina, tenho esta idade, sou doente e ainda preciso de trabalhar. Trabalho a dias em duas casas para poder comer e pagar os remédios. A minha reforma não dá p’ra nada. Este país não é para velhos, menina. Uma miséria, é o que é. Não sei onde é que isto vai parar. Do jeito que as coisas tão...”
O queixume continua caminho fora até que a interlocutora dá conta do meu silêncio.
- Tou p’ra aqui a falar, a falar e a menina nada. O que está a pensar?
-“Tanta coisa…”, respondo evasiva, tentando esboçar novo sorriso.  Tanta coisa, para não responder “Não é da sua conta.” Ou “Desculpe mas hoje estou com pouca paciência para conversas sobre a crise. Além disso, a sua ladaínha não me deixa ler o livro que trago aberto na mesma página há quinze minutos.”
Ainda bem que filtrei o mau feitio. Passada a tpm,  a abordagem da senhora ganha outra importância e converte-se no assunto desta crónica. Afinal, acredito que este país é também para velhos. No mínimo, vamos escutar o que têm a dizer.

Eu estou bem

"Eu estou bem, obrigada. A sério." Com esta e outras respostas evasivas tento proteger a auto-estima que me resta. Foi o golpe mais duro da minha existência. O amor da minha vida concluíu que eu não sou o amor da vida dele. Isto, dois dias depois de ter dito que me amava muito, muito, muito. Isto, decorridos três anos de uma história de amor avassaladora, feita de cumplicidade e paixão. Isto, a apenas um mês de assinarmos a escritura da casa dos nossos sonhos. Está a ser uma surpresa gigante. Ainda por cima, mal fundamentada (como acabam por ser todas as rupturas amorosas). Afinal, "temos pouco a ver um com o outro". É o que ele diz. Cheio de propriedade, como se evocasse a razão mais válida do mundo. Eu gosto de poesia. Ele prefere filmes de acção. Eu gosto de passear ao domingo. Ele prefere ficar em casa a fazer zapping. Eu gosto de beijinhos na boca. Ele prefere cafonés na cabeça. Eu gosto dele. Ele não sei de quem gosta. E se gosta. Aliás, sobre ele cada vez mais "sei que nada sei". Na verdade, deixei de ter certezas quando o assunto é amor... Mas tenho a impressão de que estamos a abrir mão de um romance irrepetível. Daqueles que nos fazem perceber que a felicidade é possível (por mais pirosa que possa soar). Daqueles em que são mais as razões que nos aproximam do que as que nos separam. Daqueles que nos levam a assumir sem pruridos as "almas gémeas" que somos. Porque somos. Ou fomos... Eu gosto de uma boa gargalhada. Ele faz-me rir. Eu gosto de sushi. Ele gosta de sashimi. Eu gosto de dormir abraçada. Ele gosta de abraçar-me. Eu gosto de fazer amor com ele. Ele gosta de fazer amor comigo. Eu gosto dele. Ele não sabe que gosta de mim. Um dia há-de perceber. Ou talvez não. Seja como fôr, já pouco importa. Estou desencantada. O meu coração balança entre o amor que ainda sinto e o desamor que já se instalou. Se calhar, é o curso natural das coisas. Se calhar, os meus sentimentos perderam elasticidade. De tanto serem postos à prova. Se calhar, o homem que amei este tempo todo nunca existiu. Se calhar, não passou de uma projecção feita à medida do amor que eu tinha para dar.

Tuesday, June 27, 2006

Desilusão

Consegues perceber a dor
dentro dos meus olhos?
é incógnita
e silenciosa
apesar de verdadeira e brutal
não há amor
poema
ou droga
que a torne menos doída
sem aviso
tomou conta da minha alma
e deixou-me desarmada
sem escolha
não sei como vivê-la
não sei como matá-la

talvez
morrendo.
Amo-te papá

Sob a máscara do embaraço
nunca te disse papá
o meu amor por ti
hoje decidi fazê-lo
embora o saibas já
tenho a certeza
este amor que te sinto
é o espelho do amor que me sentes
e tu
és o único fiador da sua existência
mesmo assim
quero dizer-te
de voz embargada
e pele arrepiada
que te amo muito
e quase morro quando penso
que um dia me podes deixar
sem que em mim tenha encontrado
conforto e ocasião
para dizer-te sem pudor
amo-te papá,
do coração.
Afinal

Afinal
antes de ti
nada
nada feito de muita confusão
mas
ainda assim
nada
afinal
depois de ti
tudo
tudo condensado numa explosão
loucura
orgasmo
paz
inquietação
afinal
sem ti
muito
muito feito de tudo
e de nada
síntese inevitável
de quem sobrevive
à morte da paixão.
Antecipação

Mais de mil razões para sorrir
e choro
choro com medo de perder
as mais de mil razões para sorrir
choro
porque antecipo uma dor insuportável
uma dor que não consigo distrair
apesar
das mais de mil razões para sorrir.
É cedo para o adeus

Não
as palavras entre nós não estão gastas
como diz o poeta

não
os nossos corpos não se esgotaram
apesar do cansaço

não
a esperança não mudou de cor
mesmo que tenhas deixado de acreditar

sim
há ainda muito por dizer
por cima e ao lado do que já foi dito

sim
o sopro frio ainda nos arrepia as nucas
quando a minha e a tua pele se tocam

sim
estamos ainda a tempo de segurar o amor
e fazer dele um sonho possível.
Sorriso de menino

Não é perfeito o teu rosto
mas quando o iluminas
num sorriso de menino
ficas tão bonito
tão bonito
que a minha vontade
é abraçar
de uma vez só
cada milímetro de ti
fico suspensa
sempre que me olhas e
na timidez que tanto negas
descobres em mim
o teu sorriso mais que perfeito.
Mais do que em ti

Mais do que os teus olhos
fixo o teu olhar
que acalma o desassossego que trago
mais do que os teus lábios
beijo as tuas palavras
que me falam de afecto
mais do que as tuas mãos
sinto as tuas carícias
que me inquietam de desejo
mais do que em ti
descubro em mim
que o amor vai existir sempre.
O momento

Enquanto dormes
fumo um cigarro e escrevo sobre nós
as palavras saem a conta-gotas
a escrita configura-se árida
e contrasta com a nossa cama
feita de carinho e tesão
o meu lugar ao teu lado
está agora vazio
mas apenas com um propósito
o de perpetuar no papel
este momento irrepetível
feito da certeza do nosso amor.

Monday, June 26, 2006

Quase nós

Eu estou só
ele está só
sós estamos juntos
perto de nos tocarmos
longe de nos amarmos
o meu mundo não cabe no dele
o dele não cabe no meu
são mundos de tamanhos diferentes
não fossem os mundos
eu e ele
ele e eu
seríamos nós.
Só o amor importa

Vou subir à serra
gritar: amo-te
e fazer de conta
que o eco é o teu retorno
nesse instante
que o tempo há-de parar
só o nosso amor vai existir
amo-te
amo-te
amo-te
e quanto mais forte gritar
mais forte gritarás de volta
e juntas
a minha voz e a tua
vão decidir:
só o amor importa.
Sinais de ti

Acordei contigo em mim
menino lindo de olhos tristes
o cheiro
as mãos
a voz
o beijo
a parte
o todo
a ausência
acordei contigo em mim
em mim
sobre mim
dentro de mim
tão perto da minha urgência de ti
apesar do oceano
e do resto.
A dor

dói-me tanto esta dor
vermelha
e negra
e física
de tão desatinada
a dor que fala
do vazio que há em mim
um vazio mais do que cheio
de ti
sangrento
infinito
sem misericórdia
um vazio que chegou sem aviso
e
pela demora
sem vontade de ser preenchido.
O poeta morreu

Era noite e o poeta morreu
morreu sem se despedir de mim
e com ele levou a beleza que existia
era noite e o poeta morreu
morreu sem querer saber do meu querer
e com ele levou todos os poemas de amor
era noite e o poeta morreu
morreu e deixou-me só
tão só
que me esqueci de chorar.
Dois sorrisos

nem tempo houve
para repetir o gesto
vulgarizar a palavra
suar o corpo
foi apenas um sorriso
dois sorrisos
o meu
e o teu
que me seguem
noite e dia
e dia e noite
me fazem seguir-te
dois sorrisos
que denunciam o embrião do amor
por detrás do tempo que não existiu.
Meu eu




Não te amo especialmente hoje
Não mais do que amava ontem
Mas voltei a descobrir-te


Com sorriso de menino ou sobrolho carregado
Apaixonado ou alheado
Infantil, inquieto ou sereno
Descobri-te em mim
Meu amor, meu eu


Descobri-te em mim
Uma vez mais
Cheio de ti
Cheio de mim
O desamor

O desamor do meu amor
Bateu à porta e entrou
Sem licença nem aviso prévio
A braços com a dor
Tudo em mim mudou
O coração perdeu a fé
Os olhos ficaram baços
O sorriso estreitou
O desamor do meu amor
Bateu à porta e entrou
Sem querer saber do amor
Que vive em mim.

Falta-me tanto de tão pouco... Eis a conclusão a que cheguei depois de uma ponderada análise ao estado da minha vida. Afinal, o que tenho é quase suficiente. Falta o quase. Uma nesga insignificante... E tão cheia de significado. O paradoxo que me mantém aprisionada.
Amor a dois, sexo a três

Amor a dois, sexo a três... O tema surgiu por acaso numa improvisada tertúlia com as minhas amigas. Estávamos em casa da Sofia a tomar chá e a saborear a sua nova receita de scones e compotas. Eu mandei o tema ao ar. Não me lembro bem a que propósito. Lançado o mote, as opiniões quase se atropelavam para se fazerem afirmar.
Em comum, apenas tínhamos a noção de que uma das fantasias mais recorrentes dos homens é fazer sexo com duas mulheres ao mesmo tempo. E se fôr com a namorada e uma amiga – dela, dele ou de ambos - tanto melhor. Sabíamos também que as brincadeiras na cama a três (e até a mais) são cada vez mais uma realidade experienciada por muitos casais.
A Joana foi a primeira a manifestar-se. A ideia já lhe havia sido colocada pelo namorado. E, pelo vistos, era um tema muito sensível. “Para mim, é uma possibilidade absolutamente fora de questão. Quem ama não partilha. Quem ama não expõe a pessoa amada.”, afirmou com tal veemência que se fez silêncio. Mas apenas por breves segundos, já que a Kiki foi em seu auxílio. “Devo confessar que a ideia também me causa desconforto e até alguma repulsa. A sério que não me imagino a interagir sexualmente com uma mulher. A seduzi-la e, menos ainda, a excitar-me com ela.” E gracejou: “Acho que sou mesmo “bicha”, só gosto de homens.”
A Sofia não deixou o tema cair e arriscou: “Eu talvez alinhasse...”, iniciou como que a testar o nosso encaixe. “Para vos ser franca, essa é uma das fantasias que eu e o Jorge queremos partilhar. Aliás, fartamo-nos de falar sobre o assunto mas ainda não surgiu a oportunidade. Não nos apetece um “menage a trois” sem critério. A parceira desta aventura tem, em primeiro lugar, de alinhar connosco. E, depois, precisa de ser uma escolha de ambos... A cumplicidade nestas coisas é fundamental.”
“Como podes embarcar nisso?”, indagou a Joana, muito ciosa dos seus princípios (morais, feministas e outros que tais). E, mal disfarçando uma expressão de esgar, continuou: “Onde é que fica o teu amor-próprio? Achas que se lhe propuseres sexo com outro homem, ele vai aceitar? É claro que não. São tão egoístas, tão centrados no prazer deles e na afirmação da sua sexualidade.” Eu resolvi interceder:“Agora estamos apenas a falar da fantasia vista por nós, mulheres. O que eles pensam e sentem não é para aqui chamado.”
Mas a surpresa deste lanche de “gajas” ainda estava por revelar-se. A Vera, a mais amoral das minhas amigas, ainda não se tinha pronunciado sobre o assunto. Siderada com tanto preconceito e juízo de valor, resolveu dar um murro na mesa. No sentido figurado, obviamente, por respeito ao jogo de porcelanas da anfitriã. E, sem nenhuma de nós estar à espera, irrompeu: “Eu já fiz sexo a três. E adorei! So what? É sexo e é bom... Descobri que nós mulheres somos as melhores amantes umas das outras. Porque sabemos exactamente do que gostamos. E conhecemo-nos tão bem como nenhum homem, por mais habilidoso que seja, ousará sequer conhecer-nos.”
A Kiki e a Joana empalideceram com tamanha frontalidade. Mas, sem querer saber, a Vera continuou: “Vocês nem sonham o que perdem com esses pruridos todos. Dessa forma, nunca vão experimentar a que sabe uma mulher. Nem desfrutar da vertigem duma língua que conhece os caminhos que percorre... E atenção, eu não sou lésbica. Nem nada que se pareça. Simplesmente, deixei de olhar só em frente. Alarguei o meu campo de visão. Se quiserem, descobri em mim a bissexualidade que se esconde em todas nós.”
E fez-se de novo silêncio. Ruidoso e perturbador. Um hiato de vozes que eu resolvi quebrar com o primeiro cliché que me veio à cabeça.
A conversa continuou mas o assunto ficou por ali. Pelo menos, de forma verbalizada. E se cada uma de nós já sabia, saíu deste encontro com a certeza: não existem critérios estanques quando se fala de sexo. Nesta matéria, as decisões cabem única e exclusivamente às pessoas envolvidas. Afinal, para quê formatar? Já diziam as nossas avós: “Cada cabeça, sua sentença.”
Christian du Pior

Cada vez mais o universo das mulheres é invadido pela sede insaciável de consumir. Consumir. Consumir. Consumir... De repente, não mais que de repente, todos os males parecem curar-se com a terapia das comprinhas. Tudo serve de pretexto para sairmos desatinadas à procura da peça certa: uma discussão com o namorado, um dia menos feliz no trabalho, um jantar especial ou simplesmente um vaziozinho que se instala do nada.
Todos os dias descobrimos novas necessidades, mesmo sem ajuda directa das manobras de diversão do marketing. É o baton para combinar com o top novo, as botas que descobrimos na produção da Vogue, o último grito em tratamentos de corpo, a lingerie sexy que nos faz sentir playmates...
Pouco importa que o orçamento seja limitado e quase sem elasticidade. Há sempre forma de contornar essa vil questão. Nós, viciadas em compras, sabemo-lo melhor do que ninguém. Até porque, “quem não tem cão caça com gato.” Ou seja, a pechincha é uma excelente alternativa quando a vontade é consumir a baixo preço. E neste patamar, tudo é comprável: o gancho para o cabelo da loja dos chineses, os motivos de Natal da loja dos trezentos, os óculos de sol Gucci by feira do relógio...
De repente, não mais que de repente, tudo justifica a aquisição daquela peça naquele momento. Um comportamento quase aditivo que, na maioria das vezes, vem a confirmar-se balofo. É que a euforia tem vida breve e passados uns minutos a compra revela-se inútil, desajustada ou até mesmo um logro. A propósito, um dia destes uma amiga minha não resistiu a comprar na rua o seu perfume preferido da Christian Dior. Por um quinto do preço e de autenticidade garantida pelo olhar dócil da vendedora. Mas o prazer da compra foi mesmo “sol de pouca dura”... Dissipou-se assim que chegou a casa: afinal o pretenso Dior não passava de uma solução mal cheirosa. O marido que do outro lado da sala lhe escutava o queixume, ironizou com impaciência: “Oh querida, deixa lá, agora tens um perfume novo. É Christian du Pior!”.
Graça Andrade
Alegre apesar de triste

Não me venham com palmadinhas nas costas nem paninhos quentes... Abomino qualquer tipo de comiseração. Desde já, faço questão de sublinhar: eu não sou triste. Jamais. Sou uma pessoa alegre que, neste momento, está triste.
Não estou deprimida. Nem melancólica. Estou triste. Sim, porque as pessoas entristecem às vezes. Não é nada de extraordinário. Acontece. Não é estrutural. É conjuntural, graças a Deus. É um estado de transição, se quiserem. Quando se está triste é porque logo, logo se vai estar menos triste. E, se calhar, alegre. É isso que nos move. Essa busca incessante pela felicidade. Senão, que graça teria isto de viver?
Não percebo por que a maior parte das pessoas se sente “comprometida” com a tristeza dos amigos... Sem jeito. E sem graça. Não merece a pena. Todos nós passamos por este estádio. Mais, ou menos vezes. Mais cedo ou mais tarde. Faz parte da condição humana. Faz parte do crescimento. O que não podemos é desacreditar. É perigoso ficar de braços cruzados, a girar à volta da mágoa. Dalai Lama, do alto da sua sapiência, relativiza muito bem a vida. Diz ele: “Só existem dois dias no ano em que nada pode ser feito. Um chama-se ontem e o outro amanhã. Portanto, hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e, principalmente, viver.” É isso. O ciclo da vida continua. Não se esgota nunca.
Há pessoas que brilham

Em conversa trivial com uma amiga, descobri que partilhamos do mesmo conceito estético em relação à natureza humana. Para nós, as pessoas não são bonitas ou feias. As pessoas são plenas ou vazias de interesse. As pessoas brilham ou são simplesmente baças. É sobretudo a capacidade de brilhar – mais ou menos - que define a nossa tabela de classificação.
Para nós, mais importante que ter feições perfeitas é emanar luz e alegria. Dentro desta linha de raciocínio, conheço muitas pessoas especiais. Algumas mesmo no topo da escala. É o caso do meu namorado (perdoem a falta de objectividade e isenção). É por isso que o amo tanto. Porque o brilho dele é intenso. O brilho dele perpetua o meu. O brilho dele ofusca as coisas menos boas que se atravessam na nossa vida. O brilho dele faz-me brilhar.
Apaixonei-me perdidamente. Foi na sequência de uma gargalhada provocada por ele. A sério. Naquele momento tive a certeza: “ele é lindo!”.
Já diz Vinicius: “É melhor ser alegre que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe, é assim como a luz no coração.” A química assentou, sobretudo, na coincidência do nosso sentido de humor.
Passou algum tempo, desde então... Hoje, a química extrapola o feliz encontro das nossas risadas. Até porque não só de boa disposição se fazem as relações. E os dias. Também se fazem de desentendimento, sexo, carinho, diálogo, saudade, lágrimas e muitas outras contradições emotivas.
Voltando ao brilho do meu namorado, há inevitavelmente uma questão que surge. Inquieta-me, por vezes. E se um dia acordo e o descubro baço? Tudo pode acontecer... O importante é que hoje ele irradia luz. Intensa, descomunal, fértil. E desperta em mim sentidos adormecidos. E faz-me desafiar a vida todos os dias.

Esta é a crónica que não se escreve. O exemplo a não seguir... Um verdadeiro atentado. Ao pudor e às directrizes jornalísticas. É também uma declaração de amor que tenho vindo a adiar. Apeteceu-me partilhá-la. Apeteceu-me, simplesmente. Se é vulgar escrever sobre pessoas que mal conhecemos porque não fazê-lo sobre as que nos são queridas? Quando escrevo deixo-me apenas reger pela minha “regra” de eleição: abdicar das regras instituídas...

Geneticamente foleira

“Pior, ela não é feia… Ela é geneticamente foleira.” A frase desperta-me da inércia de mais uma viagem a caminho de casa. Ao meu lado, duas produtoras de televisão ou algo parecido falam de outra pessoa. A conversa chega-me aos ouvidos entre-cortada, entre a poesia de Carlos Drumond de Andrade e os ruídos de fundo. Passa-me quase ao lado até que a expressão “geneticamente foleira” me faz erguer o sobrolho de curiosidade. Confesso que me deixa deliciada. Não ouvia uma tão ridiculamente engraçada desde “trolha enough”. Na altura era pouco mais do que adolescente e trocava o piropo com a minha maior amiga, entre risadinhas tão parvas quanto cúmplices. Era adjectivo obrigatório sempre que uma de nós, movida pela natural explosão de hormonas, conhecia um rapaz giro ou fisicamente apelativo mas aquém das nossas exigências intelectuais. O “trolha enough” tinha para nós um significado muito idêntico ao do rapaz do anúncio da Coca-Cola Light.
Voltando ao epíteto “geneticamente foleira”, tanto quanto percebi estabelece que os traços fisionómicos, por exemplo, podem constituir um motivo de avaliação social. Segundo uma das interlocutoras, há características que determinam se a pessoa é ou não “geneticamente foleira” e dificilmente são contornadas pelo estatuto ou quaisquer outros adereços adquiridos. Não me vou apoderar da expressão. Mas confesso, com embaraço, que me lembro dela por vezes para “etiquetar” algumas figuras que conheço. É discutível, facciosa e até segregadora, mas simplifica muitas considerações. Uma vez ou outra, dou por mim a pensar nesta ou naquela pessoa bem sucedida, elegante e inteligente a quem falta um “je ne sais quoi”. No caso, a ausência de “je ne sais quoi” é o pormenor que a faz ser “geneticamente foleira”. Uma patetice, claro…
A depressão da minha mãe
A minha mãe está com uma depressão. “No big deal”. Eu também passei pela experiência aos 18 anos. Mas com a minha depressão posso bem. Aliás, pude bem ( e muito graças a ela). No meu caso, “no big deal”, de facto. Mas com a minha mãe é diferente. É a minha Mãe. Não pode vacilar nunca. Nem mostrar sinais de fragilidade. Não pode mesmo. É a minha fortaleza. Sempre foi. Esteve sempre de pé e com um sorriso habitado de ternura, mesmo nos momentos mais complicados das nossas vidas (minha, dos meus manos e do meu pai) . Agora, passa os dias deitada num torpor de ansiolíticos e calmantes. Quase desaprendeu a sorrir. E, talvez por isso, chora. Um choro muito escasso de lágrimas, mas chora.
Deste lado, onde me encontro, nada posso fazer para despertá-la. Mesmo do outro lado, onde ela se desencontra, também nada podia fazer. Penso que só o tempo, a seu tempo, vai trazer de volta a minha mãe. A mulher que transborda de iniciativas e, sobretudo, está sempre presente. Presente para segurar-me a mão quando os trilhos que piso escorregam e fazem doer. Presente para aplaudir os meus sucessos e delirar com as minhas alegrias. Presente. Sempre presente. Mesmo estando do outro lado da linha a maior parte das vezes...
A minha mãe acaba de ligar-me. Uau. Há muito tempo que não telefonava nem atendia as minhas chamadas. Simplesmente, não tinha vontade de falar comigo. Nem de explicar a súbita falta de vontade de falar comigo. Comigo e com toda a gente. Por isso, quando espreitei “mamã” no visor nem queria acreditar. Até tremi. Mas a voz dela, risonha e cheia de saudade, logo me serenou. E percebi nesse instante que a minha fortaleza estava ali de novo. De pedra e cal. Erguida e a lutar com todas as forças para não se desmoronar. Que bom!!! A minha mãe está a voltar.