Sunday, October 07, 2007

Se as palavras estão gastas, amor
Vamos conjugá-las de outra forma
Se os gestos estão cansados
Vamos coreografá-los de novo
Se o desejo está morno
Vamos inflamá-lo de ousadia
Se o amor está periclitante
Vamos injectá-lo de certeza
Se estamos na corda bamba
Vamos saltar
Sem rede
E sem medo.

Sunday, September 23, 2007

Apesar do bocejo
O amor despertou
Resistente
Intacto
Forte
Inquieto
Valente
Inseguro
Lutador
Inflamável
Apaixonado
Inqualificável
Apesar da preguiça
O amor não ousou adormecer.

Friday, July 20, 2007

Mente-me que eu aguento

Há verdades interditas a serem ditas. E escutadas. Sim amor, mente-me que eu aguento. Envolve a tua mentira num laço bonito e acredita nela. Fá-la ser verdade. E não te alongues nos silêncios. Esses tiram-me o sono. E a paz de espirito.

Friday, June 29, 2007

...

Posso não saber vender o peixe, mas não o deixo apodrecer. Acredita. Só preciso do benefício da dúvida. Ou melhor, depois de tanta observação, quero mais do que isso. Afinal, mereço um voto de confiança. Como é possível te deixares enganar pelo meu estilo blazé (escreve-se assim?)? Sou mais atenta e empenhada do que deixo parecer. Acredita. Pára de questionar o meu valor a toda a hora. Dá-me espaço para crescer. E mostrar que sou crescida. Acredita. Acredita para eu poder acreditar. Estou a escassos milímetros de perder a fé... ( tão escassos que cabem no espaço das reticências)...

Wednesday, June 20, 2007

Era bem mais simples...

Era bem mais simples se vivessemos com os nossos pais para sempre. Era bem mais simples se ficassemos crianças a vida toda. Era bem mais simples se o cordão umbilical não fosse cortado. Era bem mais simples se nunca tivessemos experimentado a paixão amorosa.
O meu sobrinho Pedro tem quatro anos e sabe isso. Tem a certeza. Quando lhe perguntei um destes dias se tinha namorada, foi peremptório: "Eu não quero ter namorada. Vou viver sempre com o papá e a mamã." Notei-lhe até alguma crítica na inflexão de voz. Do estilo, "não sou como tu, que deixaste a avó e o avô".
Pois é, Pedrinho. Crescer implica fazer escolhas. Crescer implica amar outras pessoas. De outras formas. Crescer implica complicar.

Saturday, June 09, 2007

A humanidade é uma coisa linda na vida da pessoa


A falta de humanidade é uma realidade que me incomoda. Muito mesmo. Nas pessoas, claro. É que há animais que a têm (falo de humanidade,pois!). E homens que nunca hão-de entender o que é. Tive (felizmente, é pretérito) um colega que sofre deste mal. Quando o conheci percebi-lhe logo um certo egoísmo. Achei, no entanto, que era uma forma diferente de interagir. Sobretudo isso, relevei durante algum tempo. Pouco tempo, confesso. Apesar de considerar-me um ser com razoável poder de encaixe.
Na verdade, desculpei-o vezes sem conta. E deixei que as falinhas mansas de um dia cobrissem os gestos malévolos da véspera. Achei que tanto ódio reflectia, apenas, uma grande falta de
amor. Na vida dele, claro. Acreditei que, com paciência, carinho e amizade, o conseguiria "recuperar". Iludi-me algumas vezes. Sempre que lhe vislumbrava sinais de humanidade, logo
percebia que não passava de uma estratégia para fazer-me baixar a cancela. E agredir-me com mais força ainda. Sem dó nem piedade.
Não sou dada a masoquismos. Resolvi anulá-lo da minha existência. Isto depois de perceber o inevitável neste processo: ele estava a sugar-me. A desumanizar-me. Cada dia
mais um bocadinho. Pior, iniciei uma era de profunda tristeza. E nem por isso o sentia mais pessoa humana (perdoem o pleonasmo). Pelo contrário, descobria a cada instante a
dimensão da besta que habitava nele. Um animal odioso e capaz de ataques insidiosos. Feitos com mestria. Grande mestria. Porque toda a sua inteligência estava focada na
malvadez.
Acho que aprendi uma lição. A humanidade vem de dentro. Não a podemos dar a quem não tem.

Thursday, May 10, 2007

Não tenho escrito a falar de nós... Hoje apeteceu-me. Apeteceu-me dizer todos os clichés que moram no meu coração. Sabes porquê? Por sentir renovado o meu amor por ti. Por perceber que estás a crescer de alma. Por ter a certeza que és o molusco da minha concha (que é como quem diz o direito do meu avesso, hi,hi,hi ). Por te amar todos os dias um pouco mais.

Monday, April 16, 2007

Não sei se volto a encontrar-te Tatiana. Apenas sei que me tocaste o coração esta manhã. Tu que - por coincidência ou não – sofres, ou julgas sofrer, do coração. Tão pequenina, tão bonita, tão frágil. E tão carente... Foi assim que te encontrei na estação do metro. Ou melhor, foi assim que me encontraste. Estava eu à volta do rímel (aproveito normalmente a viagem para mascarar os traços de sono e cansaço) quando percebi que me observavas com um sorriso embevecido. Sorri-te de volta e continuei a cobrir as pestanas. Nem te considerei muito. Tão empenhada estava nas minhas vaidades.
Até que o metro chegou e fizeste questão de sentar-te ao meu lado. Contrariando assim a tua mãe, que optou pela bancada da ala oposta. Aí sim, percebi que estavas de olho em mim. E antes de chegarmos à estação seguinte, abordaste-me com timidez: “Está muito bonita...” Percebi que também desejavas ficar mais bonita. Quando estava a pôr brilho nos lábios, coloquei um pouco no teu indicador minúsculo para experimentares. Ficaste radiante. Foi quando perguntei como te chamavas e quantos anos tinhas. “Seis”, respondeste como se dissesses dezoito. Tão senhora de ti.
Continuei, entretanto, com o meu ritual de beleza. Mas tu querias atenção. Tocaste-me no braço e com algum embaraço declaraste: “Estou doente. Tenho um dói-dói no coração.” No mesmo instante, levantaste a camisolinha para exibir a bandeira da tua preocupação: uma espécie de penso cheio de fios a sair-te do peito. A “engenhoca”, aparatosa, deixou-me hirta e sem palavras. Pensei logo que a coisa era séria (só depois descobri que o aparelho era uma espécie de teste ambulante para medir os batimentos cardíacos das crianças).
Assim que recuperei o fôlego, perguntei se tinhas dores. Fizeste que não com a cabeça mas acrescentaste que tinhas desmaiado. Foi então que reparei o quão assustada estavas. Disse-te que desmaiar não era nenhum bicho de sete cabeças. Sem, no entanto, conseguir evitar o tom condescentente (perdoa-me a falta de jeito para lidar com a doença). Disse-te ainda que também perdia os sentidos às vezes. Sobretudo, quando estava muito calor. Foi o que me ocorreu dizer. Acho que consegui sossegar-te. Fiquei com essa impressão quando me deste a mãozinha e sorriste apaziaguada. Deixaste-me sem jeito até o final da viagem. Tão sem jeito que quando saímos, na estação terminal, decidi despedir-me e apressar o passo.
Fiz o resto do percurso a pensar em ti. E no teu medo de estar doente. E na tua vontade de partilhar isso com outra pessoa sem ser a tua mãe. Talvez quisesses poupá-la. Talvez tivesses necessidade de ouvir outra opinião. Talvez, e quero acreditar, tivesses visto em mim alguém capaz de acalmar o teu desassossego.
Desejo muito que estejas bem, Tatiana. Um beijinho.

Friday, March 30, 2007

Deixa-me ser eu

Não me faças dizer o que queres ouvir. Deixa-me falar as palavras que sinto. Ou sentir as palavras que falo. Dá espaço à minha autenticidade. Não me apetece ir por este ou aquele caminho simplesmente porque me levas pela mão. Preciso descobrir a direcção que me apetece seguir. Tenho de encontrá-la no meu coração. Entendes?
Não pretendo ser o objecto dos teus sonhos e dos meus pesadelos. Quero perceber se os teus sonhos caminham ao lado dos meus. Se coincidem. Ou colidem. E até que ponto podemos geri-los. Sem constrangimento nem dor para nenhuma das partes.
Desculpa a honestidade.
Preciso de tempo para assimilar o que se passa. Não vou dizer sim só para não te perder. E se digo sim e me perco eu? Tenho medo de descobrir um dia que sou uma personagem. Criada pelos teus caprichos. E os meus, onde ficam? Já pensaste que os oculto muitas vezes? Porque não sou capaz de ferir-te. E porque o amor que te sinto os torna quase dispensáveis. E até ridículos.
Não me faças erguer uma muralha à nossa volta. Ela pode ficar tão alta. E eu deixar de ver-te.

Friday, March 23, 2007

Que coisa!!!!!!

Eu não sou racista. Nem xenófoba. Mas já não suporto a abordagem das ciganas romenas. Parece uma peste. Alastra-se por tudo o que é sítio. A cada esquina por onde passo lá está um exemplar desta triste figura. Com ar andrajoso e ladaínha perturbante. Tal e qual uma hiena a chorar. Ou a rir. Nem sei bem. É tão enervante que em vez de me comover desperta-me raiva e aversão. Que Deus me perdoe. Mas é de facto o que sinto.
No metro, é raro o dia em que não entra uma com o recém-nascido (dela ou emprestado) a tiracolo e quase não descola. Para arredar não basta fazermos cara feia. Temos que dizer numa inflexão arrogante que não lhes vamos dar nada.
Também pelas ruas da baixa não é raro aquela que nos impinge pensos rápidos a pretexto de uma moeda. Com a reza habitual. Parece que frequentaram todas a mesma catequese. Sei lá.
Pior ainda, junto aos semáforos (onde aparecem normalmente aos pares) mandam-nos água com sabão para cima do pára-brisas. Para além de nos deixarem o automóvel gorduroso, ainda exigem pagamento pelo mau serviço prestado. Isto depois de termos explicado com as três letras que NÃO. Que não estávamos interessados na dita “lavagem”.
Às vezes, apetece bater-lhes. Até mais não.
Que povo mais sem orgulho! Não querendo estereotipar, obviamente.

Wednesday, March 21, 2007

Sinto que está na hora de esclarecer quem me visita. Os textos que aqui tenho nem sempre são o espelho da minha alma. Pelo menos, do estado de alma no momento que escrevo.
Nem sempre ilustro a realidade que estou a experienciar. Muitas vezes, assumo emoções “emprestadas”. Dos amigos, amigas e pessoas que vou conhecendo. Claro que não falo do que não sei. Claro que as lágrimas e os sorrisos de que falo também são ou foram meus. Em contextos idênticos ou distintos dos que aqui exponho.
Escrevo sempre na primeira pessoa. Assim comungo melhor da situação. Assim, visto-a plenamente. Assim ponho o coração nas palavras. Mas longe de mim ludibriar-vos. Nem sempre sou eu a despir-me...

Friday, March 16, 2007

Nunca mais escrevi. Escrever é confrontar-me comigo. Com as minhas “verdades”. Talvez por isso, não me tem apetecido escrever. Percebo pouco de psicanálise, mas a experiência diz-me que às vezes mais vale deixar as emoções sossegadas. No canto delas. Não digo adormecidas. Mas arrumadas. Assim, umas não interferem nas outras...

Tuesday, March 06, 2007

Não deixes morrer o amor-perfeito

Tenho uma coisa para dizer-te. A minha plantinha não é sintética, amor. Tal como a tua, precisa de cuidados regulares. Se te esqueces disso, ela sucumbe.
Por estes dias, não a tens regado. Ela está sedenta. Nem a tens mimado. Ela está desnorteada. Não tens olhado para ela. Está moribunda.

Monday, February 12, 2007

Suficientemente feliz

“És feliz?” perguntas-me hoje. “Sou, sou suficientemente feliz”, respondo logo. Depressa. Temendo que a hesitação me atraiçoe. Temendo que me leias o tom de voz. Temendo que me adivinhes tremendamente triste. E concluas que o nosso amor não chega para me fazer feliz. Ou que o nosso amor me deixa neste estado letárgico de tristeza. Hoje não sei responder com toda a verdade a essa pergunta. Hoje até uma parte da verdade me escapa. Não sei, amor. Acho que suficientemente feliz até não é mau. Já me senti pior. E já quase me esqueci de algum dia me ter sentido melhor. Não sei bem em que lugar me encontro na escala da felicidade. Nunca pensei muito sobre isso. Se calhar prefiro nem saber. Mais vale deixar a ferida sarar ao invés de tirar-lhe a crosta. Ou então (quem sabe?) fazer outro curativo...
Mas tu insistes. “Porque deixaste de falar comigo?” Desfaço em muitos bocados um lenço de papel, enquanto penso numa resposta que fira menos os teus sentidos. Nada do que me ocorre se afigura adequado. Que devo responder-te? Que se me calaram as palavras. Que já não tenho coisas bonitas para dizer-te. Que - acredita - não queres ouvir o que tenho para falar. Que se falar não vou calar-me durante muito tempo. Que afinal são tantas as palavras que tenho para dizer. E dizer-te. Tantas. Atabalhoadas de tantas.
Impaciente com o meu silêncio, voltas à carga: “Antes contavas-me tudo...” É verdade, houve tempos em que simplesmente vomitava palavras. A maior parte das vezes sem as filtrar. Sem as pensar. Era tal a incontinência que falava por cima dos restantes interlocutores. Tu não eras excepção. Tão obstinada estava em despejar ideias que mal te escutava. E quando o fazia era sempre à procura de mote para a minha ladaínha.
Até que houve um dia que me chamaste à atenção. Lembras-te? Disseste-me que não te ouvia? Que nem olhava nos teus olhos quando falavas? Tinhas razão, amor. Toda a razão, concluí, depois de uma breve intro e retrospectiva. Jurei então - a ti e a mim - que ia mudar. Que ia passar a escutar-te. E a escutar-me. E, por isso, a falar menos. Ou melhor, a dizer menos palavras. Nem que tivesse de tomar ansiolíticos para acalmar tamanha verborreia. Não foi preciso recorrer a tais métodos. Aos poucos, aprendi simplesmente a descentralizar o meu mundo. A expandir para fora do umbigo. A olhar à volta. Devo isso a ti, amor. É verdade. Ensinaste-me a olhar à volta. A sair da minha concha de egoísmo e vaidade.
E porque os teus olhos insistem numa explicação, concedo: “Falava muito mas dizia pouco. Na verdade, foram muitas as palavras que reprimi... Mesmo no tempo em que não me calava. Falava, falava, falava. Para ocultar o medo de falar. Entendes?” Olhas-me surpreendido. Como se me visses pela primeira vez. Como se, de repente, me descobrisses estranha. Vou ao encontro da tua expressão incrédula e, com um abraço, peço que me deixes em paz. Que não ouses despir-me a alma.
O que me apetece mesmo é chorar. Em alta voz. Chorar simplesmente. Chorar como uma criança que se perdeu dos pais e assustou-se. Chorar o choro perdido. Chorar o medo de perder-te. Urge saber se estamos a tempo de salvar o diálogo. E o amor. Não digo nada. Não sou capaz. Invade-me uma amnésia de palavras. Como te amo! Por que deixámos crescer o fosso entre nós? Faz-me recuperar a memória do tempo em que amávamos como se não houvesse outro dia. Lembras-te de quando nos sentíamos capazes de tocar o céu? Quando achávamos que ia ser para sempre. Que o encantamento era eterno. E ai de quem se atrevesse a questionar o rosa da atmosfera. Como nos bastavamos! O resto era acessório. Mesmo quando não era.
Entre a divagação e o saudosismo, deixo escapar: “Não quero perder-te...” E porque em ti os olhos brilham e o rosto sorri, fico com a certeza da reciprocidade do amor. E percebo no mesmo instante o quanto sou feliz. Mais do que o suficiente.

Tuesday, January 23, 2007

Tem dó

Sabes amor, eu também estou um pouco deprimida. A diferença é que estou a reagir com todas as minhas forças. E sabes porquê? Porque não me apetece cavar uma fossa ainda maior do que a que me encontro.
Quando estou assim, recorro quase sempre ao mesmo exercício mental. Penso nos motivos que tenho para ser feliz. E são muitos, acredita...
Quanto a ti, pensa por exemplo que és um homem saudável, inteligente, interessante, amado, respeitado. E lindo. Quase me esquecia de sublinhar. Lindo. E tens uma carreira que muita gente cobiça, uma casa fantástica e (perdoa a imodéstia) uma mulher linda (que até pode ser de feia).
Ocupação para esta tarde?! Quantas queres? Podes ler um pouco do livro, aproveitar e saber mais sobre o curso de meditação, fazer zapping e ouvir música, fazer uns downloads porno ou de outra matéria qualquer, sair e apreciar a vista e a brisa da marginal ou dormir apenas. Queres mais? Então, inventa. Puxa pela cabeça. Reage. Mas não me faças má cara. Porque isso dói. E dessa forma a minha depressão fica mesmo feia. Pior do que a tua. Acredita.

Friday, January 19, 2007


É a vergonha da minha cara

“Que horror, amiga! Não arranjavas um saco menos mexeruca para trazer no metro? Esse é a vergonha da minha cara.” O reparo é-me dirigido pela minha parceira de viagens. Isto porque de volta a casa trago um saco de compras do Minipreço.
“Qual é o problema? A sério que não percebo o espanto. O saco é um horror porquê?”, reajo com pouca paciência para observações deste teor. Já a refazer-me do desconforto instalado, ela conclui: “Ainda se fosse um saco do Harrod’s ou do El Corte Inglés...”
É neste momento que me cai tudo. Tudo não, graças a Deus. A Ele e a aos coadjuvantes anti-gravidade a que em boa hora recorro. Mas a moral cai-me a pique. Custa-me entender que uma pessoa adulta, inteligente e bem formada seja tão preconceituosa. No entanto, a observação da minha amiga fica a moer-me o juízo nos segundos que se seguem. De tal maneira que vacilo para os meus botões.  Chego a equacionar enfiar o saquinho de compras na mochila do ginásio. Imagino olhares de escárnio e expressões de mal dizer por parte dos outros passageiros. Felizmente, a “travadinha” dura apenas breves momentos. Num abrir e fechar de olhos, volto à realidade. E sinto remorsos por quase me ter rendido aos argumentos da minha amiga.  Porque não carregar o saco do Minipreço? Lidl? Feira Nova? Pingo Doce? Continente? È natural que me esteja a falhar um ou outro. Mas que fique claro: a intenção não é ferir susceptibilidades nem fazer publicidade (pela qual não sou paga).  Ninguém passa sem as compras de supermercado. Seja ele qual for. E mais importante do que marcas ou logotipos é a escolha dos produtos. O facto de ter colocado isso em questão - ainda que por míseros segundos - leva-me a dizer em jeito de mea culpa: É a vergonha da minha cara!

Monday, January 15, 2007

O preço do mal-entendido

Uma frase inacabada, uma palavra mal interpretada, uma desconfiança infundada, um olhar cruzado, um sentido de humor trocado... O mais pequeno gesto pode criar o mal entendido. E o mal entendido faz normalmente duas "vítimas": o que entendeu mal e o que não se fez entender. Das duas uma: um dos dois enxota o orgulho e fala do assunto. Ou então a coisa pode crescer e assumir proporções estapafúrdias. E, neste caso, perdem ambos. No mínimo, ficam a perder o esclarecimento da situação.
Este preâmbulo para vos dizer que estou a protagonizar um mal entendido. Dos grandes, acho eu. Primeiro, decidi ignorá-lo. Pensei: "Como não devo não temo e tudo se há-de compôr". Assim não foi. Acontece que se operou um efeito de bola de neve a rebolar pela montanha abaixo. O que era um pequeno desconforto transformou-se num ódio visceral.
A situação é de tal ordem que já não consigo encará-la como se nada fosse. E se questionar faz de mim fraca, então vou ser muito fraca. Porque tenho muitas perguntas a fazer. Ou, se calhar, apenas uma. Tudo depende da resposta ou respostas que vou escutar. Às cegas é que não posso permanecer. Até porque sou curiosa. E quero saber o motivo de tamanho alvoroço.
Está decidido. Amanhã ponho um ponto final nesta história. É que, mal ou bem, eu só quero entender.

Friday, January 12, 2007

As pessoas más são também medrosas

Tenho vontade de publicar os meus textos. Apetece-me mesmo. Não sei se por narcisismo ou apenas por uma espécie de necessidade de ser embalada. Na verdade, as opiniões de quem me lê são de grande importância para mim. Só para terem noção, visito o blog três vezes por dia. Pelo menos. E sempre que espreito o sinal de nova mensagem, o meu coração arrebata. Nos milésimos de segundo que antecedem a leitura, incho de alegria. E vaidade. É claro que a sensação é efémera. A maior parte das vezes. Sobretudo, quando logo a seguir me deparo com textos mesquinhos e mal intencionados. Desses recebo muitos. Não muitos. Alguns. Sempre anónimos, é claro. Porque as pessoas más não são apenas más. São também cobardes e medrosas. Merdosas também.
Mas estas coisas acontecem. “Quem anda à chuva molha-se.” Já dizia a minha avó (apesar de iletrada foi das pessoas mais sábias que conheci). E quando nos molhamos podemos até ficar doentes. Pois é. Da forma que me tenho exposto, tive mesmo de ganhar anticorpos.
Agora, algumas injecções depois, sinto o sistema imunitário reforçado. Não há maldade que me cause medo. Antes pelo contrário. Permite-me sempre uma segunda leitura. Já quase tenho elementos para redigir um tratado. Sobre a pobreza de espírito. Que, infelizmente, é mais comum do que a nobreza. Enfim, já estou de novo a fazer o que melhor sei. Desconversar. Descarrilar do tema a que me proponho inicialmente. Viva a associação livre de ideias...

Wednesday, January 10, 2007

O que faço à semente que tenho dentro de mim?

Despenalizar ou não a prática do aborto? A questão está na ordem do dia. Quem me conhece sabe perfeitamente o que penso sobre o assunto. Enquanto mulher nem imagino assumir outra posição. Enoja-me tanta hipocrisia. Em nome da moral e do direito à vida (mas que vida?! E a partir de quando a vida é vida?).
Neste momento, confesso, a despenalização do aborto é a última das minhas preocupações. Foi apenas uma forma de introduzir-vos o dilema em que estou. Procuro desesperadamente uma resposta confortável à pergunta que me atormenta na última semana. O que faço à semente que tenho dentro de mim?
Noutros tempos, a resposta seria fácil. E pronta. Hoje, tudo é diferente. Faz-me falta ser mãe. Melhor dizendo: vai fazer-me falta ser mãe. Dito assim, parece um cliché de segunda categoria ( como se houvesse clichés de primeira!). Na verdade, sinto que estou no dead line da minha existência fértil. A natureza parece estar a testar-me. Uma vez mais. E não sei se me vai propiciar outras oportunidades. Vivo o meu estádio mais maduro. É agora ou nunca.
Vai ser nunca. Já percebi. E tenho pena. O relógio biológico é impaciente e não espera. Tem um timing estanque. Que, infelizmente, não coincide com o do meu quotidiano. Só por isso (desajustes de timing), nos tempos mais próximos ser mãe é impensável. Ele há muitas razões... Ausência das condições materiais indespensáveis à maternidade. E falta de backstage familiar. Sim, porque os meus pais estão longe fisicamente. Não posso contar com o colinho deles. Nem eu nem o bebé que gostaria de gerar.
Não é só isso. Como vou encaixar mais um ser na minha vida? Tão cheia de falta de tempo. Tão cheia de coisas minhas. Tão cheia de coisas nossas (minhas e do meu amor). Como ganho latitude para amar a três? Ainda não sou capaz de responder às perguntas que se digladiam entre o coração e a razão. Enquanto isto, só há uma saída para a semente que tenho dentro de mim. Deixá-la ir ao encontro do mar. Imenso. Azul. Infinito.