Tuesday, January 23, 2007

Tem dó

Sabes amor, eu também estou um pouco deprimida. A diferença é que estou a reagir com todas as minhas forças. E sabes porquê? Porque não me apetece cavar uma fossa ainda maior do que a que me encontro.
Quando estou assim, recorro quase sempre ao mesmo exercício mental. Penso nos motivos que tenho para ser feliz. E são muitos, acredita...
Quanto a ti, pensa por exemplo que és um homem saudável, inteligente, interessante, amado, respeitado. E lindo. Quase me esquecia de sublinhar. Lindo. E tens uma carreira que muita gente cobiça, uma casa fantástica e (perdoa a imodéstia) uma mulher linda (que até pode ser de feia).
Ocupação para esta tarde?! Quantas queres? Podes ler um pouco do livro, aproveitar e saber mais sobre o curso de meditação, fazer zapping e ouvir música, fazer uns downloads porno ou de outra matéria qualquer, sair e apreciar a vista e a brisa da marginal ou dormir apenas. Queres mais? Então, inventa. Puxa pela cabeça. Reage. Mas não me faças má cara. Porque isso dói. E dessa forma a minha depressão fica mesmo feia. Pior do que a tua. Acredita.

Friday, January 19, 2007


É a vergonha da minha cara

“Que horror, amiga! Não arranjavas um saco menos mexeruca para trazer no metro? Esse é a vergonha da minha cara.” O reparo é-me dirigido pela minha parceira de viagens. Isto porque de volta a casa trago um saco de compras do Minipreço.
“Qual é o problema? A sério que não percebo o espanto. O saco é um horror porquê?”, reajo com pouca paciência para observações deste teor. Já a refazer-me do desconforto instalado, ela conclui: “Ainda se fosse um saco do Harrod’s ou do El Corte Inglés...”
É neste momento que me cai tudo. Tudo não, graças a Deus. A Ele e a aos coadjuvantes anti-gravidade a que em boa hora recorro. Mas a moral cai-me a pique. Custa-me entender que uma pessoa adulta, inteligente e bem formada seja tão preconceituosa. No entanto, a observação da minha amiga fica a moer-me o juízo nos segundos que se seguem. De tal maneira que vacilo para os meus botões.  Chego a equacionar enfiar o saquinho de compras na mochila do ginásio. Imagino olhares de escárnio e expressões de mal dizer por parte dos outros passageiros. Felizmente, a “travadinha” dura apenas breves momentos. Num abrir e fechar de olhos, volto à realidade. E sinto remorsos por quase me ter rendido aos argumentos da minha amiga.  Porque não carregar o saco do Minipreço? Lidl? Feira Nova? Pingo Doce? Continente? È natural que me esteja a falhar um ou outro. Mas que fique claro: a intenção não é ferir susceptibilidades nem fazer publicidade (pela qual não sou paga).  Ninguém passa sem as compras de supermercado. Seja ele qual for. E mais importante do que marcas ou logotipos é a escolha dos produtos. O facto de ter colocado isso em questão - ainda que por míseros segundos - leva-me a dizer em jeito de mea culpa: É a vergonha da minha cara!

Monday, January 15, 2007

O preço do mal-entendido

Uma frase inacabada, uma palavra mal interpretada, uma desconfiança infundada, um olhar cruzado, um sentido de humor trocado... O mais pequeno gesto pode criar o mal entendido. E o mal entendido faz normalmente duas "vítimas": o que entendeu mal e o que não se fez entender. Das duas uma: um dos dois enxota o orgulho e fala do assunto. Ou então a coisa pode crescer e assumir proporções estapafúrdias. E, neste caso, perdem ambos. No mínimo, ficam a perder o esclarecimento da situação.
Este preâmbulo para vos dizer que estou a protagonizar um mal entendido. Dos grandes, acho eu. Primeiro, decidi ignorá-lo. Pensei: "Como não devo não temo e tudo se há-de compôr". Assim não foi. Acontece que se operou um efeito de bola de neve a rebolar pela montanha abaixo. O que era um pequeno desconforto transformou-se num ódio visceral.
A situação é de tal ordem que já não consigo encará-la como se nada fosse. E se questionar faz de mim fraca, então vou ser muito fraca. Porque tenho muitas perguntas a fazer. Ou, se calhar, apenas uma. Tudo depende da resposta ou respostas que vou escutar. Às cegas é que não posso permanecer. Até porque sou curiosa. E quero saber o motivo de tamanho alvoroço.
Está decidido. Amanhã ponho um ponto final nesta história. É que, mal ou bem, eu só quero entender.

Friday, January 12, 2007

As pessoas más são também medrosas

Tenho vontade de publicar os meus textos. Apetece-me mesmo. Não sei se por narcisismo ou apenas por uma espécie de necessidade de ser embalada. Na verdade, as opiniões de quem me lê são de grande importância para mim. Só para terem noção, visito o blog três vezes por dia. Pelo menos. E sempre que espreito o sinal de nova mensagem, o meu coração arrebata. Nos milésimos de segundo que antecedem a leitura, incho de alegria. E vaidade. É claro que a sensação é efémera. A maior parte das vezes. Sobretudo, quando logo a seguir me deparo com textos mesquinhos e mal intencionados. Desses recebo muitos. Não muitos. Alguns. Sempre anónimos, é claro. Porque as pessoas más não são apenas más. São também cobardes e medrosas. Merdosas também.
Mas estas coisas acontecem. “Quem anda à chuva molha-se.” Já dizia a minha avó (apesar de iletrada foi das pessoas mais sábias que conheci). E quando nos molhamos podemos até ficar doentes. Pois é. Da forma que me tenho exposto, tive mesmo de ganhar anticorpos.
Agora, algumas injecções depois, sinto o sistema imunitário reforçado. Não há maldade que me cause medo. Antes pelo contrário. Permite-me sempre uma segunda leitura. Já quase tenho elementos para redigir um tratado. Sobre a pobreza de espírito. Que, infelizmente, é mais comum do que a nobreza. Enfim, já estou de novo a fazer o que melhor sei. Desconversar. Descarrilar do tema a que me proponho inicialmente. Viva a associação livre de ideias...

Wednesday, January 10, 2007

O que faço à semente que tenho dentro de mim?

Despenalizar ou não a prática do aborto? A questão está na ordem do dia. Quem me conhece sabe perfeitamente o que penso sobre o assunto. Enquanto mulher nem imagino assumir outra posição. Enoja-me tanta hipocrisia. Em nome da moral e do direito à vida (mas que vida?! E a partir de quando a vida é vida?).
Neste momento, confesso, a despenalização do aborto é a última das minhas preocupações. Foi apenas uma forma de introduzir-vos o dilema em que estou. Procuro desesperadamente uma resposta confortável à pergunta que me atormenta na última semana. O que faço à semente que tenho dentro de mim?
Noutros tempos, a resposta seria fácil. E pronta. Hoje, tudo é diferente. Faz-me falta ser mãe. Melhor dizendo: vai fazer-me falta ser mãe. Dito assim, parece um cliché de segunda categoria ( como se houvesse clichés de primeira!). Na verdade, sinto que estou no dead line da minha existência fértil. A natureza parece estar a testar-me. Uma vez mais. E não sei se me vai propiciar outras oportunidades. Vivo o meu estádio mais maduro. É agora ou nunca.
Vai ser nunca. Já percebi. E tenho pena. O relógio biológico é impaciente e não espera. Tem um timing estanque. Que, infelizmente, não coincide com o do meu quotidiano. Só por isso (desajustes de timing), nos tempos mais próximos ser mãe é impensável. Ele há muitas razões... Ausência das condições materiais indespensáveis à maternidade. E falta de backstage familiar. Sim, porque os meus pais estão longe fisicamente. Não posso contar com o colinho deles. Nem eu nem o bebé que gostaria de gerar.
Não é só isso. Como vou encaixar mais um ser na minha vida? Tão cheia de falta de tempo. Tão cheia de coisas minhas. Tão cheia de coisas nossas (minhas e do meu amor). Como ganho latitude para amar a três? Ainda não sou capaz de responder às perguntas que se digladiam entre o coração e a razão. Enquanto isto, só há uma saída para a semente que tenho dentro de mim. Deixá-la ir ao encontro do mar. Imenso. Azul. Infinito.