Friday, June 29, 2007

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Posso não saber vender o peixe, mas não o deixo apodrecer. Acredita. Só preciso do benefício da dúvida. Ou melhor, depois de tanta observação, quero mais do que isso. Afinal, mereço um voto de confiança. Como é possível te deixares enganar pelo meu estilo blazé (escreve-se assim?)? Sou mais atenta e empenhada do que deixo parecer. Acredita. Pára de questionar o meu valor a toda a hora. Dá-me espaço para crescer. E mostrar que sou crescida. Acredita. Acredita para eu poder acreditar. Estou a escassos milímetros de perder a fé... ( tão escassos que cabem no espaço das reticências)...

Wednesday, June 20, 2007

Era bem mais simples...

Era bem mais simples se vivessemos com os nossos pais para sempre. Era bem mais simples se ficassemos crianças a vida toda. Era bem mais simples se o cordão umbilical não fosse cortado. Era bem mais simples se nunca tivessemos experimentado a paixão amorosa.
O meu sobrinho Pedro tem quatro anos e sabe isso. Tem a certeza. Quando lhe perguntei um destes dias se tinha namorada, foi peremptório: "Eu não quero ter namorada. Vou viver sempre com o papá e a mamã." Notei-lhe até alguma crítica na inflexão de voz. Do estilo, "não sou como tu, que deixaste a avó e o avô".
Pois é, Pedrinho. Crescer implica fazer escolhas. Crescer implica amar outras pessoas. De outras formas. Crescer implica complicar.

Saturday, June 09, 2007

A humanidade é uma coisa linda na vida da pessoa


A falta de humanidade é uma realidade que me incomoda. Muito mesmo. Nas pessoas, claro. É que há animais que a têm (falo de humanidade,pois!). E homens que nunca hão-de entender o que é. Tive (felizmente, é pretérito) um colega que sofre deste mal. Quando o conheci percebi-lhe logo um certo egoísmo. Achei, no entanto, que era uma forma diferente de interagir. Sobretudo isso, relevei durante algum tempo. Pouco tempo, confesso. Apesar de considerar-me um ser com razoável poder de encaixe.
Na verdade, desculpei-o vezes sem conta. E deixei que as falinhas mansas de um dia cobrissem os gestos malévolos da véspera. Achei que tanto ódio reflectia, apenas, uma grande falta de
amor. Na vida dele, claro. Acreditei que, com paciência, carinho e amizade, o conseguiria "recuperar". Iludi-me algumas vezes. Sempre que lhe vislumbrava sinais de humanidade, logo
percebia que não passava de uma estratégia para fazer-me baixar a cancela. E agredir-me com mais força ainda. Sem dó nem piedade.
Não sou dada a masoquismos. Resolvi anulá-lo da minha existência. Isto depois de perceber o inevitável neste processo: ele estava a sugar-me. A desumanizar-me. Cada dia
mais um bocadinho. Pior, iniciei uma era de profunda tristeza. E nem por isso o sentia mais pessoa humana (perdoem o pleonasmo). Pelo contrário, descobria a cada instante a
dimensão da besta que habitava nele. Um animal odioso e capaz de ataques insidiosos. Feitos com mestria. Grande mestria. Porque toda a sua inteligência estava focada na
malvadez.
Acho que aprendi uma lição. A humanidade vem de dentro. Não a podemos dar a quem não tem.