Monday, March 24, 2008

O metro estava apinhado de gente. Problemas de ordem técnica provocaram um atraso significativo e consequente multidão.
“Que chatice...”, pensei contrariada. Estava mesmo com vontade de aproveitar a viagem para ler. Ando agora entretida com o manual do curso de reiki. E, claro, prefiro ler sentada e bem acomodada. Mas logo me lembrei de uma máxima bem a propósito: “apenas por hoje não me vou preocupar”. E, mesmo de pé, embrenhei-me na leitura.
Tão distraída me encontrava a descobrir mais sobre a harmonização das energias vitais quando um senhor já idoso me cede o lugar. Aceitei prontamente julgando-o de saída. E muito surpreendida fiquei quando, duas ou três estações à frente, reparei que ele ainda ali se encontrava. De pé, mesmo ao meu lado. Olhava com serenidade para mim. Perguntei-lhe, então, porque me oferecera o lugar, uma vez que não ia sair. Com a calma e sapiência de quem deixou de ter pressa há muito, explicou: “A menina está a ler. Eu tenho pouco ou nada para fazer. E muito tempo para me sentar...” A resposta apaziguou-me. Tinha tanto amor no olhar que encheu o meu dia de sol. Naquele momento intuí: este homem foi numa das suas vidas passadas o ancião mais sábio e importante de uma casta tribal. Senti ainda que, nessa ou noutra encarnação, as nossas vidas - a dele e a minha - haviam cruzado.