Monday, October 26, 2009

"Vai-te foder" já era

Que mania a nossa de mandar foder quem nos arrelia… Dei por mim a pensar no outro dia que não faz o menor sentido. Se foder é bom – e todos gostamos – que raio de lógica é mandar alguém foder como se fosse maldição?
E se, a partir de agora e sempre que nos sentirmos importunados, em vez de mandar foder, dissermos “nosso Senhor me foda”? Assim fazemos o gosto ao gosto. E sem pecado.
No meu deserto

Tu vais, eu fico. Tu chegas, eu abraço-te. Ainda com saudade. E a ternura que sobra.
Mas não peças mais. Não peças para ser receptáculo das tuas aventuras. Ainda quentes e presas ao lugares de onde vens. Não peças para escutar as tuas histórias. Com lacunas inadvertidas e deliberadas. Não peças a cumplicidade que deixou de existir.
Da próxima vez, leva-me contigo. Vamos olhar na mesma direcção. Com olhos diferentes, claro. Mas de mãos dadas.

Wednesday, October 21, 2009


Até me frita a pipoca

A conversa que escutei no outro dia no metro podia ter resultado num momento risível. Mas o efeito foi outro. A minha pequena dor de cabeça adquiriu estatuto de enxaqueca. Uma jovem falava sobre a escassez de homens para uma relação séria nos dias que correm. O senão ficou entre o estilo e o tom de voz. Uma grande algazarra foi o que foi.
“Amiga, a sério, já não sei o que fazer. Não está fácil arranjar namorado. Estou farta de puxar pela cabeça. Até me frita a pipoca. Só te digo, deixei de ser esquisita. Sabes, tenho 26 anos e não vou ficar p’ra tia. Quero lá saber se não é bom com’ó milho. Desde que tenha dentes na boca (gargalhada estridente). Há dois ou três anos ainda reparava se tinha barriga ou uma perna mais comprida do que a outra. Agora já não (gargalhada ainda mais estridente)…
Mas olha, também não me envolvo com homens na discoteca. À noite, sabes como é, parecem uns príncipes. Mas depois, de manhã, são quase sempre um desastre aéreo (gargalhada histriónica). Nem pensar, amiga. Estás a ver o gerente daquela discoteca angolana, um que já morreu? Uma vez, ele disse-me “És mesmo linda. À luz do dia é que se vê.” Nesse sábado, eu tinha ficado lá até de manhã ( gargalhada escancarada)…
Diz? Quero lá saber, amiga. Também estou no metro e depois? Eu quero é que as pessoas que estão a ouvir se explodam!”
Pela parte que me toca, tive vontade de responder à letra. Juro que tive. Mas evoquei as máximas do reiki e decidi fazer que não estava a ouvir. Quando era pequena a minha avó ensinou-me que “para palavras loucas, orelhas moucas”.
Chegámos ao fim da linha. A jovem que deixou de ser esquisita seguiu com a conversa em alta voz. Eu segui com a dor de cabeça em alta escala. Segundo as palavras dela, “frita da pipoca”. Alarguei o passo já incapaz de “encaixar” a verborreia até o destino seguinte. 

Thursday, August 27, 2009

Gosto de escrever porque sim. Gosto de escrever para sossegar a alma. Gosto de escrever porque me arruma as ideias. Gosto de escrever quando tenho coisas para dizer. Importantes ou fúteis. Gosto menos de escrever quando há um calendário a respeitar. Detesto dead-lines. Atrofiam-me. E as ideias parece que encolhem. Como um pénis em contacto com água fria. A sério…
Gosto de escrever fora de horas. Gosto de escrever dentro de horas. Gosto de escrever quando estou só. Ou quando me sinto só. Gosto de escrever todos os dias. Um parágrafo, dois ou mais. Gosto de escrever para mostrar. Gosto de escrever para esconder. Gosto de escrever para dissimular. Gosto de escrever para brilhar. Gosto menos de escrever quando me traçam balizas. Fico fora de jogo. A bola não flui da mesma forma. A sério…
Gosto de escrever com o coração. Gosto de escrever com os pés. Gosto de escrever sem filtros de espécie alguma. Gosto de escrever ao sabor do momento. Seja ele dor, felicidade ou capricho.

Tuesday, August 25, 2009

Querido blog, hoje acordei triste. Com uma sensação amarga. Não falo do amargo de boca característico de quem acaba de acordar. O amargo que sinto não desaparece com uma escovagem de dentes.
Não sei explicar muito bem o que se passa… Tenho a mania que sou intuitiva e controlo tudo à minha volta. Na verdade, a intuição apenas me traz sofrimento ao quadrado. E isso é tão estúpido quanto triste. É que já não basta o sofrimento que se segue. Eu sofro também o sofrimento que antecede. Desculpem os pleonasmos, mas quando estou neste estado de alma sou fã acérrima das figuras de estilos. Não há como redundâncias e contradições para espelhar a cores a confusão dos meus pensamentos.
Às vezes, penso que tenho um distúrbio mental grave. Chego mesmo a equacionar a esquizofrenia como possibilidade. É que num momento estou muito feliz e a sentir-me a mulher mais afortunada do mundo. E, quase a seguir, caio num pranto de colossal tristeza. O facto de ser gaja e ter as hormonas em batalha não ajuda. Agora que “desbafei”, como diz uma amiga from England, já me sinto melhor. Aliás, já me sinto ridícula. Com o alarde criado à volta de nada. Incontornável. Esta minha dualidade…O que vale é que estou na contagem decrescente para o fim do dia. Pressinto um dia de sol amanhã. Literal e metaforicamente falando.

Thursday, July 23, 2009

“E a princesa entregou-lhe a chave do seu amor...” Assim dizia o bordado vermelho sangue no vestido branco da Luisinha. Uma noiva original. Como original é o amor.
A minha amiga, tal como eu, acredita em contos de fadas. E, ao contrário de mim, sempre idealizou um casamento de princesa. Nesse dia, o do casamento, emocionou todos os presentes. Com o brilho dos seus olhos. Nunca a tinha visto tão feliz. Nem tão apaixonada. Nem tão bonita.
Não tenho falado com a Luisinha. Entretanto, tornou-se esposa. Entretanto, foi mãe. Entretanto, está a concluir a tese de doutoramento. Entretanto, com tudo isto, quase perdemos o rasto uma da outra. Tenho pena.
Muitas vezes, o quotidiano não se compadece da amizade. Muitas vezes, o tempo que sobra é pouco e quase sem qualidade. Muitas vezes, mais vale adiar um telefonema do que fazê-lo em clima de tensão. Muitas vezes, as pessoas afastam-se inadvertidamente. Tenho pena.

Wednesday, July 15, 2009

Quem não sabe inventa

As desculpas genéticas irritam-me solenemente. Estava precisamente a falar disso com uns amigos outro dia. A propósito de alguém culpar os genes pelos quilos que ganhou a mais. “A mãe também é generosa de formas, para não dizer, muito generosa…”, justificava assim uma das presentes.” “Não me venham com tretas. E o fast food, os gelados com chantily, as noites de copos não contam?”, retorqui de imediato.
A discussão continuou... Mas passou a outro protagonista. Este não tem problemas de peso. Ou melhor, de excesso de peso. É mais de falta dele. Tudo devido ao consumo abusivo de cocaína. “Agora não me venham justificar o comportamento aditivo com o facto do pai fumar... “, avisei logo. Antes que a conversa metesse nojo. Mesmo assim, houve quem entendesse interceder e justificar. Não a “favor” da genética, mas da educação. “Coitado, o pai é uma figura de Estado e nunca teve tempo para ele. O rapaz passou a infância enclausurado num colégio interno.” Se teve educação é porque teve. Se não teve é porque não teve. Enfim…Quem somos nós para aferir as razões que levam alguém a engordar ou a tomar drogas? Um dos interlocutores, a páginas tantas, depois de ouvir argumentos e contra-argumentos daqui e dali, resolve sacudir a discussão: "Nós somos 12 irmãos, filhos do mesmo pai e da mesma mãe. Lá em casa fomos todos tratados e educados da mesma maneira. Eu dei em paneleiro, tenho um irmão drogado, uma irmã puta e outra cabeleireira." Fez-se silêncio por breves segundos. Logo a seguir, rebentámos numa risada. E voltou a fazer-se silêncio. Cada um com as suas ilações… Realmente! Quem somos nós para discorrer sobre o que não sabemos?

Thursday, June 25, 2009

God is gay

God is gay. Uma heresia. Mas espelha na perfeição o deslumbramento que senti... Nunca tinha visto tanto homem lindo por centímetro quadrado. A sério. Estive em Paris para um casting e, por mero acaso, fui atraída para uma festa sui generis. Ia a passear com os meus colegas depois do jantar. Procurávamos um bar simpático para tomar vinho e desfrutar da atmosfera nocturna da cidade da luz. No caminho, esbarrámos num quarteirão imponente com jardim, de onde saíam ondas de animação e glamour. É ali que queremos estar. A certeza foi tão imediata quanto unânime. Fomos, então, de penetras ao club-sandwich, no edifício Pierre Cardin. Depois de pagarmos 25 euros cada um. Assim que passámos o portão, deparámo-nos com uma autêntica fonte de tesão sonoro e visual. A música era sexy e os convivas soberbos. Era uma festa gay topo de gama. Creme de la creme. Manequins, actores, cineastas, criadores de moda. Enfim... Entre bebericar champanhe, dançar e disparatar, não conseguimos evitar de espantar para algumas criaturas. Homens sobretudo, mas também mulheres, de estética arrojada. Demos de caras com o estilista Mark Jacobs, a ex-namorada da Lindsay Lohan, o manequim Jacomossi e outros tantos cujos nomes me escapam. Eu, que sou despudorada, senti-me uma verdadeira colegial. Faltavam-me 15 centímetros de salto. Inadmissível nesta festa. Até porque os reis da noite os tinham. Vi homens lindos, de corpos esculpidos, de calções rasgados e brutos stiletos. Uma inquietação. "Mon Dieu, faz-me gay!", pensei vezes sem conta...

Sunday, April 26, 2009


As desculpas não fazem delite

Há atitudes que não se justificam. Mas podem enquadrar-se. No sábado, eu e o meu namorado fomos jantar com dois amigos. Tudo indiciava uma noite agradável, apesar da chuva intermitente. Fomos ao Bocca e comemos que nem abades. Na verdade, que nem abades com pouco apetite. Já que a nouvelle cuisine não se compadece de estômagos toscos como os nossos. Mas deparámo-nos com um maravilhoso menu degustativo. Das entradas de vieiras com trufas e caviar aos pratos de bodião com lapas, ao atum tekaki, sem esquecer o pudim de ricota acompanhado de sorvete de manjericão... Tudo regado de um encorpado tinto do Douro. Acabado o jantar e ainda por acabar a conversa, fomos até o Lux. Como estávamos todos numa de serão ligeiro continuámos no vinho. Ficámos junto ao bar e - entre um copo, um fait divers e uma gargalhada - se fez o convívio. Entretanto, descobri que o barman preparava uma bebida decorada com rodelas de pepino. Pedi-lhe uma e gracejei com o grupo, colocando-a nos olhos em jeito de máscara cosmética. Péssima ideia. Esquecera-me do rímel e do eyeliner que de repente me vieram à memória quando vi a cara de horror do meu namorado. Intuí logo o borrão. Antes de correr para a casa de banho atirei, sem pensar duas vezes, a rodela de pepino. Que foi aterrar junto ao peito do empregado. Bastou uma fracção de segundos para me arrepender do gesto. Mas já não o podia suspender. Depois de me retocar, voltei ao bar decidida a desculpar-me. Protagonismo que me foi tirado pelo barman. Antes de me deixar falar, repreendeu-me. Assumi a culpa e pedi mil perdões pela atitude infantilóide. Mas a diversão ficou por ali. Assim como a vontade de ali estar. Senti-me triste e bastante envergonhada.
De volta a casa, e a propósito de atitudes irreflectidas, lembrei-me do Pepe, o jogador que está na berlinda por ter agredido ao pontapé um adversário em pleno jogo. Não sei o que se passou na cabeça dele. Nada justifica a violência, mas recuso-me a crucificá-lo... Por detrás ou ao lado do gesto, há sempre um contexto. Há atitudes que não se justificam. Mas podem enquadrar-se. Pior do que o repúdio de quem testemunhou o episódio, pior do que o castigo das entidades reguladoras e pior do que tudo é a severa auto-censura. O rapaz está com certeza arrependido do que fez. E, se não sabia, ficou a saber que as desculpas não fazem rewind. Nem delite.

Thursday, March 19, 2009

Sou a nova colaboradora da Revista Happy. A revista mais "cute" do universo português. A partir da próxima edição, passo a assinar alguns temas. Estou a partilhar a novidade não apenas por vaidade (que também a tenho, depois de ter estado alguns anos fora do mercado da escrita), mas sobretudo para vos pedir sugestões. Do sexo ao esoterismo, conto escrever apenas sobre assuntos que considero felizes. Não se acanhem, escrevam-me com ideias giras. Contem-me histórias. Dêem-me pistas. Obrigadão. Muá

Thursday, February 05, 2009

O primeiro casting

O coração dele dispara quando na final do curso de manequins é escolhido para o trabalho. O único entre algumas dezenas de candidatos. Tem 17 anos e muitos sonhos. Aquele é o pontapé de saída de uma carreira que, acreditava, seria de muito sucesso. A primeiríssima contratação.
Não cabendo em si de expectativa, vai à prova de roupa no dia seguinte. Chega pela boleia do pai, que fica à espera à porta do local marcado.
A pessoa que o recebe orienta-o para uma sala pequena onde deverá vestir-se. Lá, apenas encontra um fato de coelho. Ainda sem perceber o que se passa, indaga sobre o paradeiro dos coordenados. A resposta vem num embrulho de desprezo:
- A roupa é essa que aí está.
- Ah... Julguei que ia fazer prova para um desfile. Quando me falaram da Fil...
- É um desfile. Vais “passar” o Quicky. E é para a Fil Alimentar.
Fica devastado. Sem palavras. E sem “jogo de cintura” para disfarçar a decepção. Inquieto, baralha-se com as patas do animal. Sob o olhar frio e atento da produtora. Troca os braços pelas pernas e vice-versa. Uma. Outra. E outra vez. Aqueles breves momentos sabem a eternidade.
Feita a prova e acertados os detalhes, apressa-se nas despedidas, tal a vontade de fugir. E de chorar. De volta ao carro do pai, omite o que se passa. Disfarça com aparente entusiasmo.
Passaram-se alguns anos, e o meu amigo, num contexto de copos e boa disposição, confidencia o seu primeiro casting. O grupo ri muito. Ele mais ainda. Mesmo assim, uma de nós vai em seu auxílio: “Ao menos estavas disfarçado. Ninguém sabia que eras tu...” Ao que ele, depois de soltar uma gargalhada ainda mais sonora, remata: “Aí é que te enganas. A boca do coelho era a minha cara. E estava toda de fora...”

Friday, January 30, 2009

Há que dizer o amor

Está a dar-me um ataque de amor. Neste preciso momento. Avassalador. Daqueles incontroláveis. De tal forma que não cabe em mim. Tal a urgência de o partilhar. Não apenas com o amor da minha vida. Mas com toda a gente.
Há que dizer o amor. Como se dizem as outras coisas. Sem pruridos. Ou com eles. Com figuras de estilo. Ou sem elas. Conforme as ganas da pessoa. Há que dizê-lo tantas as vezes que apetecer. Sobretudo se é gigante e não cabe todo dentro de nós.
Há que dizer o amor. As palavras são ambíguas e não dizem da sua verdade. Mas sugerem-na. As palavras são pequenas e não medem a sua grandeza. Mas aliviam o peso de o carregar sozinha. Isso sossega-me. Bastante.