Thursday, July 23, 2009

“E a princesa entregou-lhe a chave do seu amor...” Assim dizia o bordado vermelho sangue no vestido branco da Luisinha. Uma noiva original. Como original é o amor.
A minha amiga, tal como eu, acredita em contos de fadas. E, ao contrário de mim, sempre idealizou um casamento de princesa. Nesse dia, o do casamento, emocionou todos os presentes. Com o brilho dos seus olhos. Nunca a tinha visto tão feliz. Nem tão apaixonada. Nem tão bonita.
Não tenho falado com a Luisinha. Entretanto, tornou-se esposa. Entretanto, foi mãe. Entretanto, está a concluir a tese de doutoramento. Entretanto, com tudo isto, quase perdemos o rasto uma da outra. Tenho pena.
Muitas vezes, o quotidiano não se compadece da amizade. Muitas vezes, o tempo que sobra é pouco e quase sem qualidade. Muitas vezes, mais vale adiar um telefonema do que fazê-lo em clima de tensão. Muitas vezes, as pessoas afastam-se inadvertidamente. Tenho pena.

Wednesday, July 15, 2009

Quem não sabe inventa

As desculpas genéticas irritam-me solenemente. Estava precisamente a falar disso com uns amigos outro dia. A propósito de alguém culpar os genes pelos quilos que ganhou a mais. “A mãe também é generosa de formas, para não dizer, muito generosa…”, justificava assim uma das presentes.” “Não me venham com tretas. E o fast food, os gelados com chantily, as noites de copos não contam?”, retorqui de imediato.
A discussão continuou... Mas passou a outro protagonista. Este não tem problemas de peso. Ou melhor, de excesso de peso. É mais de falta dele. Tudo devido ao consumo abusivo de cocaína. “Agora não me venham justificar o comportamento aditivo com o facto do pai fumar... “, avisei logo. Antes que a conversa metesse nojo. Mesmo assim, houve quem entendesse interceder e justificar. Não a “favor” da genética, mas da educação. “Coitado, o pai é uma figura de Estado e nunca teve tempo para ele. O rapaz passou a infância enclausurado num colégio interno.” Se teve educação é porque teve. Se não teve é porque não teve. Enfim…Quem somos nós para aferir as razões que levam alguém a engordar ou a tomar drogas? Um dos interlocutores, a páginas tantas, depois de ouvir argumentos e contra-argumentos daqui e dali, resolve sacudir a discussão: "Nós somos 12 irmãos, filhos do mesmo pai e da mesma mãe. Lá em casa fomos todos tratados e educados da mesma maneira. Eu dei em paneleiro, tenho um irmão drogado, uma irmã puta e outra cabeleireira." Fez-se silêncio por breves segundos. Logo a seguir, rebentámos numa risada. E voltou a fazer-se silêncio. Cada um com as suas ilações… Realmente! Quem somos nós para discorrer sobre o que não sabemos?