Wednesday, December 15, 2010

Está um frio surreal. Não vale a pena contra-argumentar com os países nórdicos. A sério, é uma comparação desleal. Venho da Madeira. Quase que me atrevo a dizer, uma ilha tropical. Vivi até ao refilar da idade adulta num clima ameno. Quando cheguei a Lisboa pela primeira vez fui derrubada pela primeira gripe marada da minha vida. Levou-me à cama dois ou três dias e só acalmou à força de antibiótico e outros venenos. Eu que fazia gala de não tomar medicamentos! Foi no início de Outubro de há mais de vinte anos. Em pleno Outono. Para mim era como se fosse Inverno. E dos agrestes. Desde então ganhei carapaça. Mas hoje tenho frio. Não conto ficar doente como então. Até porque estou a entrar de férias e não teria graça. Muito frio. Tanto como no dia que cheguei a Lisboa. Tanto frio que sinto o nariz apalhaçado e os mamilos doridos. Tanto frio que de repente as minhas mãos envelheceram anos a fio. Tanto frio que o meu cérebro congelou e na frase anterior fez-me rimar uma rima tola. Não foi de propósito. Abomino rimas infantis. Mas foi de propósito que a deixei ficar. Para que percebam do frio que tenho.

Tuesday, December 14, 2010

Estou de novo cara a cara com a folha branca. Assim de repente nada me ocorre contar ou dizer. Estou basicamente a fazer uso da folha branca, agora com alguns caracteres pretos, para fins terapêuticos. Sinto-me um pouco triste. Por nada em particular. Por tudo em geral. Talvez porque em final de ano é tempo de balancear a minha vida. Talvez porque as expectativas que trazia me pareçam agora distantes. Talvez porque a crise que assola o mundo, o país e a cidade onde vivo não me deixe indiferente. Não a crise em si mas a atitude perante ela.

Provavelmente, e o mais certo, é estar neste momento a conjugar disparates. Apenas porque me apetece ocupar a mente com algum raciocínio. Apenas porque disso poderá depender a minha sanidade mental.

O engraçado é que a folha branca fica aos poucos e poucos matizada de preto. Não permite que me dê brancas. Pelo contrário, inspira-me. Tem a margem que preciso para espreguiçar o estado de alma. À partida as ideias são pouco claras mas assim que começo a teclar vêm à superfície. É comum apanharem-me desprevenida…

Friday, December 03, 2010

Conheceram-se em reportagem. Ele fotógrafo. Ela jornalista. A química aconteceu quase de imediato. Ambos madeirenses a viver em Lisboa. Ele não sabia dela. Ela não sabia dele. Iam rumo ao sul. Ao serviço de uma revista.

A caminho, ela pergunta: “Faltam muitos quil(h)ómetros para chegarmos?” O sotaque fá-lo clicar. “És madeirense?”, indaga com surpresa. Descobriram assim que eram conterrâneos. Um pouco mais tarde, nesse ou no dia a seguir, descobriram algo mais. Ele percebeu primeiro. Perdido no azul dos olhos dela. Ela rendeu-se. Perdida na sexualidade da voz dele. Foi um encontro especial. Tudo conjugava a favor. O sol, o mar, o spa do hotel, o vinho branco, o tinto, a leveza de ambos.

De regresso ao quotidiano, o romance ainda bebé sucumbiu. Os compromissos de um e a imaturidade de outro ditaram o fim da história. Ficaram resquícios de paixão. Passados seis anos, voltam a encontrar-se. A chama, quase extinta, reacendeu. É que era para ser. O fado assim destinara. Desconhece-se o the end. A história continua…