Tuesday, January 25, 2011

Estou num daqueles dias em que não estou bem nem mal. Estou uma espécie de assim-assim. A fazer pandant com a condição lusitana. E digo-vos que é uma grande merda este estado de alma. Não me identifico absolutamente nada. Tudo no geral e nada em particular me entedia. Não sei se é da lua. Mas não me parece. Até porque hoje a dita está cheia. E diz quem é dado às coisas dos astros e afins que quando assim é, nós – em especial nós, as gajas – ficamos mais entusiasmadas…

Mas não. Não há entusiasmo à vista. Muito antes pelo contrário. O que vale é que vai sobrando assunto, ou falta dele, para escrever. É que isto da escrita é doloroso que se farta. Gosto de escrever. Mas gosto menos quando assumo o compromisso de o fazer. Talvez por isso tenho fugido das publicações como o Diabo da cruz. O que acaba por ser um paradoxo infernal. É que, se por um lado me apraz publicar, por outro, gosto pouco que me digam sobre o que escrever. Pior ainda, tenho verdadeira aversão às datas de entrega. Atordoam-me a criatividade. É de tal forma que me perco do objectivo quase sempre. Enfim… Gostava de ser menos divagarosa (acabei de inventar esta) e possuir um raciocínio mais matemático. Gostava mesmo. De tal forma que nas aulas de ioga, nos momentos de introspecção, quando a luz toma conta da minha vontade, é isso que peço: um raciocínio mais matemático.

Thursday, January 13, 2011

Vergonha alheia

-Atchiiiiiiiim. Atchiiiiiim. Atchiiiiim.
- Estás com uma gripe tremenda, amiga! Porque é que não ficas em casa? Nesse estado ainda contagias as crianças todas!
- Isso não me preocupa mesmo nada, se queres saber. Atchiiiiiiiiim. Lá na creche,  ninguém falta por estar com gripe. Aliás,  as minhas colegas até tossem e espirram de propósito para cima dos miúdos. Assim são sempre menos dois ou três que aparecem no dia seguinte. Poupa-nos imenso trabalho. Atchiiiiiim. Atchiiiim.  (O jovem que a acompanha com certeza teria preferido não saber,  mas ela prossegue com o racicínio) Este ano, a classe é mesmo difícil. São muitos bebés, choram por tudo e por nada, sujam as fraldas de minuto a minuto, demoram horas a adormecer. É bastante complicado.
- Pois, acredito que sim. Mas foste tu que escolheste ser educadora... (Embaraçado e ciente de que estão a ser escutados por algumas pessoas, o “amigo” faz toda a questão de se demarcar) Não era suposto seres mais vocacionada?
- E sou vocacionada! Uma coisa não invalida a outra. Isto é só uma constipaçãozinha. Não é nada grave. Não stresses, na pior da hipóteses é uma gripe. E depois? Assim os miúdos até ganham anti-corpos. Estou ainda a fazer-lhes um favor, se queres saber…
Parece ficção. Mas é a transcrição fidedigna do diálogo que tive o desprazer de escutar um dia destes no metro apinhado de gente. Indignada e estupefacta, apetece-me dar “um chega p’ra lá” àquela menina tola aprendiz de educadora de infância. Mas não vou a tempo de dizer o que quer que seja. Ela sai entretanto na estação antes da minha. Resta-me a “vergonha alheia”.  A expressão que li en passant no mural de uma amiga do facebook vem-me logo à memória. Vergonha alheia. É exactamente o que sinto perante tamanha falta de consciência e respeito pelo próximo.

Monday, January 03, 2011

- Porque é que o teu pescocinho cheira a cerelac?

- Não sei... A cerelac?

- Sim, a papinha de bebé. É doce e suave. E o meu, amorzinho, a que cheira?

- Cheira a perfume, acho eu...

- Tu não tens poesia.

- Nem sequer tenho olfacto, quanto mais poesia...