Thursday, April 07, 2011

“Oh mãe, não fiques triste. Ainda te vou dar muitas alegrias...” A promessa foi selada a beijos e afagos. Rodrigo tem nove anos e não está preparado para as lágrimas da mãe. Como se alguma vez fosse estar. Não há idade que prepare para as dores da nossa progenitora.




Os pais estão a separar-se. O que ele já supusera inevitável. O que ele, de certa forma, desejara muito. Ao fim de dias e noites de gritaria histérica pela casa. Pela rua, no carro e até à porta da escola. Uma vergonha. Quase tão grande como a tristeza. Já não havia como dar a volta. As sucessivas faltas de respeito extraviaram qualquer possibilidade de reconciliação. Até na cabeça de Rodrigo. O desabar daquele casamento era um fardo muito pesado para a sua compreensão de menino. Foi com alívio que tomou conhecimento de que as duas pessoas mais importantes da sua vida passavam a seguir caminhos separados.


Só não contava com as lágrimas da mãe. Lágrimas bojudas. A escorrerem-lhe desenfreadas pela cara abaixo. Vincando os vincos que nas últimas semanas lhe vêm pesando o rosto ainda jovem. Isso foi o golpe mais duro de todos. Os insultos Rodrigo podia bem fingir não escutar. Quando os gritos se tornavam insuportáveis, amortecia-os enchendo os ouvidos de algodão e tapando-os com a força toda das suas mãozinhas. Agora aquela mágoa salgada no rosto desfeado da mãe era arrepiante. Jurou, para ela e para ele sobretudo, jamais dar-lhe motivos para chorar. Nem que isso significasse mais tempo de estudo e menos de recreio.


Passaram três ou quatro meses. “Mãe, tive 98% a português. Agora sou mesmo o melhor da classe. A professora diz que sou um exemplo a seguir. Estou tão feliz, mãe. Eu não te disse que ias ter muito orgulho de mim?” Um orgulho gigante, de facto. Tão grande que lhe abafou os elogios. Só conseguiu abraçá-lo. Com tamanha força que o sufocou. “Mãe, pára… Assim magoas-me. Não me apertes tanto, mãe…” À falta de palavras, engasgadas pela comoção, o abraço era tudo o que tinha para dar. E fê-lo como se não o quisesse desabraçar mais.