Monday, November 12, 2012


Entra no avião apreensiva. Encontra o lugar e aquieta-se num pranto desvairado. Uma vez mais, tese e antítese dela própria. As lágrimas escorrem-lhe, impacientes, pelo rosto. Caem-lhe no colo enquanto afagam, ao mesmo tempo, os medos e as mágoas que embala. Afinal, deixa na ilha a menina que foi. E segue ao encontro da mulher, ainda incógnita, que há-de ser.
Miguel dá-lhe a mão. Olha-a nos olhos e, sem palavras, diz-lhe que não tenha medo. E diz-lhe mais. Diz-lhe do amor sem tamanho de tão grande que sente por ela. Também sem palavras, Maria do Mar agradece o gesto. E diz-lhe do amor sem tamanho de tão grande que sente por ele. É quanto basta. Ambos têm a benção do Universo. E a certeza de que vão na direcção certa. Porque quando o amor tem este tamanho não sobra espaço para dúvidas. 

Wednesday, October 17, 2012




É hora de cortar o cordão umbilical e partir ao arrepio das emoções. É hora de confrontar o chamado “custo de oportunidade”. É hora de dizer “até um dia destes” à mãe, ao pai e aos manos. É hora de deixar para trás a terra, o mar, o sabor a peixe frito e o arco-íris mais bonito do mundo. Maria do Mar está triste. Tão triste e perdida quanto feliz e expectante. Tanto quanto é possível balançar entre  dois estados de alma tão opostos.
É preciso largar o passado para abraçar o futuro. Mesmo que, na transição, o presente doa. E dói quase sempre muito. No aeroporto, a filha do meio de Joaquim e Maria do Amparo sente-se dormente. Quase ausente. Como se fosse outra pessoa a partir. Como se não passasse de uma observadora desta despedida. Assim se defende da dor que tem.
E chega o momento do adeus. Dos beijos e abraços apertados. Das recomendações e votos de boa viagem. Das saudades loucas que já se sentem. Das certezas feitas dúvidas. E da coragem feita medo. É tanta a emoção num tempo tão pequeno… A xavelha não consegue evitar as lágrimas, que lhe caem obesas e atarantadas pelo rosto fora.
De repente, tudo é assustador. A aventura de partir. A primeira viagem de avião. A despedida da família. Até a serenidade do Miguel.  Que se despede da mãe com dois beijos e um “até já”. 

Thursday, September 27, 2012


Muita saliva partilhada. Muitos “amo-te” trocados. Muitas arrebatações. Alguns amuos. Algumas pazes feitas. Algumas discussões. Algumas pazes por fazer. Passam cinco anos.
A vida corre-lhes de feição. Apesar da crise cada vez mais desavergonhada. Miguel afirma-se no meio artístico. Quase não tem mãos a medir para as encomendas que chegam. Vêm de muitos lados. Joanesburgo, Porto, Londres, Madrid… Maria do Mar forma-se em Biologia Marinha. A um mês de concluir o estágio, surgem duas propostas de trabalho. A mais interessante chega de Lisboa.
Os dois ponderam trocar  a ilha pela Capital. Por esta e outras razões, Câmara de Lobos está a cada dia mais longe. O coração da xavelha não perde o berço de vista. Mas a cabeça ressaca por novos horizontes. Não há como contornar. A dialética faz parte. Crescer é também fazer opções.  

Thursday, August 16, 2012



De volta à sala, Miguel traz sorvete de maracujá. E saudade do azul de mar revolto dos olhos de Maria do Mar. Dos lábios decalcados de morango. Da pele macia e doce. E da inspiração daquela menina/mulher que alenta a sua vida de homem e artista. Antes de pousar o gelado, vai ao encontro dela e beija-a sôfrego. Com o desejo incontido (porque o desejo não se contém quando se o tem). Com a vontade alvoraçada de quem esteve afastado por bem mais do que dois minutos. É o desespero da paixão. Inflamada. Tão inflamada que não sabe dar tempo ao tempo. Até porque há sempre tempo para ter tempo.
Deixam a mesa. O momento pede outro espaço. A chaise longue de pêlo de pony parece-lhes oportuna. Declinados, saboreiam o sorvete. A cada colher descobrem-se mais próximos. Mais físicos. Mais ateados para o fogo que se avizinha. A taça dele fica vazia. A dela também. Já não há tempo para o café. A tesão é descomunal. Implora por outros sabores. Outros sentidos. Outro espaço.

Saturday, July 07, 2012


É o primeiro sobressalto na história deste amor tão acabado de começar. Outros sobressaltos virão. Uns menos doces. Uns mais amargos. Porque o coração da mulher não está preparado para amar. Sempre que ama desassossega. E só aquieta quando o amor prescreve. É assim desde sempre. Não há nada a fazer. Apenas almofadar um ou outro impacto. Maria do Mar ainda não sabe que é assim. Não viveu o bastante para saber. Saberá a seu tempo. Daqui a muitos sobressaltos.
Voltaram à sala de jantar. Ele, como se nada tivesse acontecido. Ela, envergonhada, a esforçar-se por isso. Sentam-se e pegam ao mesmo tempo no copo. Uma coreografia espontânea. Miguel propõe um brinde. Ao amor, claro. De olhos nos olhos. Apregoam os supersticiosos que se assim não for são sete anos de mau sexo. E ninguém merece. Menos ainda estes dois que mal o desfrutaram.
Segue-se a sobremesa. Ele dirige-se à cozinha. Ela fica onde está. A saborear o vinho e a música. E o calor suave do amor, que só os poetas sabem escrever.

Monday, July 02, 2012




Trémula e sem saber o que dizer, dirige-se aos dois interlocutores. Ao ouvirem passos, calam-se ambos. Olham-na, curiosos. Ao deparar-se com eles, o receio da ainda menina de Câmara de Lobos cai por terra. No lugar dele fica o embaraço. Pelos disparates que lhe passaram pela cabeça. Pela ousadia de ter ido até ali. As palavras escapam-se-lhe. Ao Miguel também. O constrangimento de um e de outro faz ruído no silêncio. 
A visitante decide aligeirar a tensão.  Atalha por uma espécie de cumprimento: “Boa noite. Eu sou a Benvinda. Apesar de não ter vindo em hora oportuna. Peço desculpa por invadir o vosso jantar romântico. Mas o assunto que me trouxe não podia esperar. Já estou de saída.” E, de sorriso conciliador, faz saber: “Um dia destes quero conhecê-la. Maria do Mar, não é? O meu filho tem falado de si…” 
Fica a lição. Nem sempre o fumo é indício de fogo.

Tuesday, June 19, 2012


Saboreiam o jantar sem os grilhões do tempo. Com vagar. Porque com vagar deve ser feito o que se faz com prazer. O diálogo é raro e de poucas palavras. O essencial não precisa de signos. Está escrito nos olhos dele e dela. E no bater descompassado do coração de ambos.
Deliciados de palato e prenhes de amor, declaram-se a cada gesto. O quadro é perfeito. Tão perfeito que irritaria qualquer testemunha. Tão perfeito que uma vírgula estaria a mais. Mas, assim do nada, surgem umas reticências... Alguém toca à porta. Ele muda a expressão. E vai ver quem é. Ela, como que por osmose, também muda a expressão. E espera por ele.
Do lado de fora, uma voz feminina faz-se ouvir. A convidada não percebe as palavras da "intrusa". Mas advinha-lhes o significado. É um pedido de explicação. O tom está acima ao de uma conversa de circunstância. Quase exaltado. O quadro, que era perfeito, evidencia pequenas fissuras. Umas a seguir às outras. Há aqui uma história mal contada. Ou simplesmente ocultada. Para um ou outro lado. Talvez para ambos. O esclarecimento urge. E a espera torna-se longa. Maria do Mar perde a paciência e segue na direcção da porta. Não se vive uma história de amor por cima de um equívoco…


Saturday, March 10, 2012

Ela chega com o postal numa das mãos e uma túlipa amarela na outra. Adora túlipas. Adora-as amarelas. Uma flor tem sempre um lugar cativo à espera. Tenha a cor que tiver. É a primeira vez  que janta em casa dele. É a primeira refeição confecionada por ele. É a primeira noite que dormem juntos. As emoções estão naturalmente ao rubro.
Ainda à porta, chega-lhe um cheiro quente e doce. Não tarda a confirmar que vem das batatas doces acabadas de assar. Respira fundo. Antes de tocar à campaínha, ensaia expressões de descontração para o espelho da fachada. Respira fundo de novo e toca. Ele vem de copo na mão. Sofisticado. De preto da camisa aos sapatos. E de avental amarelo. Da mesma cor da túlipa que ela traz. A coincidência fá-los soltar uma gargalhada. Oportuna para o momento.
Miguel convida-a a entrar. Serve-a de vinho e brindam à noite e ao amor. De olhos bem postos um no outro. Com todas as certezas do mundo. Que só os corações apaixonados têm.
Maria do Mar entrega-lhe a flor e o postal. Ele lê em mode repeat enquanto se dirige para a cozinha. Nunca uma frase tivera nele efeito tão avassalador. Ela segue-o em silêncio, de copo na mão. Ruborizada. Ele beija-a. Sem conseguir dizer todo o amor que sentia mais o amor que agora sente. As palavras não se encontram umas às outras. Beija-a de novo. Grato. Embevecido. Emocionado.
Recuperado da surpresa, retoma a confecção dos legumes salteados com bolbo de funcho. Outro aroma doce a juntar-se ao ácido das lapas grelhadas com manteiga de alho e sumo de limão. Enquanto degustam a entrada, Miguel corre à cozinha a ultimar a iguaria principal. São bifes de atum e querem-se mal passados. Um verdadeiro festim para os sentidos. O cheiro, a apresentação dos pratos, o paladar, a escolha musical, a luz, a mesa posta, o calor desta paixão que arde e se vê. 

Sunday, March 04, 2012



Alguns beijos depois é dia dos namorados. O primeiro dos dois. Com a paixão em carne viva, nem um nem outro resiste ao clichet da data. Logo pela manhã, Maria do Mar recebe um ramo de rosas vermelhas. São catorze. Uma por cada dia juntos. Como explica o poema que as acompanha por entre corações estilizados. Ou não fosse o Miguel artista plástico. Ela derrete. Lê e relê com o sorriso pateta de quem rebenta pelas costuras de tanta paixão.
Corre a comparar o postal que tem para ele, insegura. “És o Sol do meu quintal.” Dedicara-lhe esta frase. Fazia todo o sentido quando a escreveu. Agora acha-a ridícula. A paixão inebria e torna poetas os amantes. Ainda que por breves momentos. O que lhe parecera harmonioso, parece-lhe agora um atentado. A constatação fá-la balançar. Talvez outro postal com outra frase… Um simples “amo-te” é uma possibilidade. Pode não ser tão poético mas é mais seguro. A lucidez é tramada. Vem sempre de braço dado com o medo do ridículo. E este foge da ousadia como o diabo da cruz.
O que é feito da impertinência da xavelha de Câmara de Lobos? A recear a frase por parecer escassa de poesia? Ou cheia de amor? Após intensa dialética, Maria do Mar decide. “És o Sol do meu quintal.” é definitivamente a declaração. Sem tirar nem pôr. 

Thursday, February 09, 2012

Ele chega primeiro. Dez minutos antes da hora marcada. Como combinado, aguarda no terraço onde os ilhéus acenam a quem chega e parte de avião. Maria do Mar aparece pouco depois. De vestido estampado, botas altas e cabelos soltos. Ainda mais bonita do que ele a tinha na memória. Vêem-se logo e seguem ao encontro um do outro. Quase em slow motion, como nos filmes românticos. Mais pelo fraquejar das pernas do que pelo estilo. Estão os dois nervosos. Ela um pouco mais, a avaliar pelos maneirismos. Em socorro, Miguel sugere um passeio pela marginal de Santa Cruz. Ela diz que sim. Seguem lado a lado. Trocam algumas palavras. Quase sem  olharem na direcção um do outro. Como é ridícula a paixão no estado embrionário. E linda.
Seguem o passeio. Vão ver a praia. Ficam horas entregues ao deleite dos sentidos. A vista que acaba no horizonte, a meias com o céu azul klein. O cheiro acre e salgado a mar. O mumurar das ondas minúsculas a desmaiar nos calhaus. Serenados, a conversa flui mais ligeira, entre uma e outra risada. A cumplicidade configura-se a pouco e pouco. E à troca de olhares mais demorada, sucede a troca de um beijo. Do jeito mais desajeitado que a metáfora permite. "Tão fugaz que nem deu/ para ver como era o fogo/ que a tua (dela) boca prometeu." Como tão bem escreve Tê e não menos bem canta Rui Veloso.

Friday, January 27, 2012


E porque a paixão é aquela coisa que não se explica por mais que se tente explicar, tudo aconteceu assim sem como nem porquê. De repente - não mais que de repente, como diz o poeta - Maria do Mar voltou a sentir o coração a bater mais forte. Não é que o rapaz do restaurante vem sacudi-la da apatia sentimental em que estava? Tudo porque os olhos dele e os olhos dela se encontram por um acaso do destino! E se há motivos que nos fazem duvidar das razões do Universo, outros há, como o amor, que nos levam a crer que tudo faz sentido e nada acontece por acaso.
Antes de sair do restaurante, Miguel deixa o número de telemóvel num outro guardanapo. Desta vez, sem intermediário, entrega-o à menina dos olhos da cor do céu e do mar. Não sabe nada sobre ela. Mas sabe que o pirlimpimpim da química está a fazer das suas. Por ora basta-lhe. A contar deste momento, aguarda cada minuto com a paciência possível. Quase nenhuma. Novecentos minutos depois, o telefone toca. Ele, pela arritmia que o assola,  sabe que do outro lado é ela. De voz suave, quase infantil. “Olá, Miguel. Eu sou a Maria do  Mar… (e o silêncio de quem não sabe o que dizer sem soar ridícula).”
“Olá, Maria do Mar. Ainda bem que ligaste! Estou à espera há quinze horas… (e o silêncio de quem não sabe o que dizer sem soar ridículo).” Com hiatos de parte a parte, a conversa segue, periclitante, até o agendar do primeiro encontro. Amanhã às dezanove horas, em terreno neutro. O aeroporto. Ela decide. Ele concorda sem questionar. 

Friday, January 20, 2012

Já não era sem tempo… Maria do Mar está de novo apaixonada. “Desta vez é que é!”, esta a convicção da nossa menina. É, aliás, a convicção de quem se apaixona de novo. Ela resiste mas quando o amor acontece, acontece e ponto. Ponto não. Vírgulas, reticências, pontos de interrogação, exclamação, pontos e vírgulas mas nada de ponto. Quando o amor acontece, não há como ignorá-lo. A via é mergulhar de cabeça. Ou fugir a sete pés. Não é o caso. A xavelha de Câmara de Lobos é das que não têm medo. Não identifica os sinais na primeira abordagem. Escudada dos assuntos do coração desde Kadhafi, não vê o óbvio aos olhos de quem está de fora. 
Tudo começa em noite de saída. Jantar e copos com duas colegas para assinalar a entrada no curso de Biologia Marinha da Universidade da Madeira. Quem diria? Há cinco anos, o cenário era bastante remoto. Para não dizer impossível. Mas "quando há uma vontade, há um caminho", traduzindo à letra "where there's a will, there's a way".
Voltando ao assunto, no restaurante as três caloiras festejam e projectam as novas aventuras académicas quando Maria do Mar pressente alguém a fixá-la. Curiosa, leva o olhar ao encontro dos olhos que a espreitam. Para ela, é pouco mais do que uns olhos bonitos a olharem os seus. Também bonitos por sinal. Para ele, é muito mais do que isso. É a certeza de que nenhum deles está ali por acaso. Nunca a tinha visto. O amigo dele também não. A situação requer ousadia. Tudo menos o risco de a perder de vista. Esquecendo por um instante que é tímido, escreve no guardanapo “Acho que estou apaixonado... Miguel”. O empregado aceita fazer de mensageiro. Surpreendida, Maria do Mar volta a olhar na direcção dos olhos que a vêem. Desta vez, o brilho é igual nos dois sentidos.

Thursday, January 12, 2012

24 de Dezembro. Falta pouco para a meia noite. Em casa de Maria do Mar reina a boa disposição. A criançada, excitada, não vê a hora de rasgar o papel dos embrulhos. É grande a algazarra. Afinal nem todos os dias são dias de festa. Os mais velhos deliciam-se com as broas e os bolos de mel amassados há duas semanas por Maria do Amparo. Acompanham com licor de tangerina, anis ou tintantum. Uma trinca daqui, um golinho dali, uma brincadeira dacolá e os ponteiros do relógio assinalam a hora aguardada. 25 de Dezembro. A pequenada abre “caça” ao Pai Natal que, entretanto, “está já de visita a outra casa”. Com a pressa, “para que nenhum menino fique sem prenda neste dia”, deixou cair o sapato. Por acaso, até é parecido com o do pai garanhão. Mas neste momento os miúdos não querem saber e correm para os próprios sapatos. Estão junto ao fogão (à falta de lareira). É lá que cada um encontra o brinquedo que tanto deseja. Com a euforia e o açúcar dos chocolates e refrigerantes, a adrenalina dispara-lhes. Tão cedo não conseguem dormir. Mais vale deixá-los curtir as prendas até que se rendam ao cansaço. Os primeiros a quebrar são os adultos. À excepção de Maria do Mar que aproveita uns ensonados e outros distraídos para se pôr bonita. Ainda mais bonita. É que lá fora tem à espera alguém muito especial. 

Thursday, January 05, 2012


A poucos dias das festas de Natal, o mar põe-se assanhado e a construção abranda a marcha. Com as duas fontes de rendimento comprometidas, o garanhão anda assustado. A insónia é já a principal companheira dele. Passa as noites em branco a tentar trocar as voltas à crise. Que chega com descaramento de puta. São muitas as bocas à sua mercê. E ser pobre não é desculpa. É fundamental ser criativo. Neste caso, ao invés de escrever poesia ou esculpir obras de arte, é preciso criar novas oportunidades.
Logo de manhã, foi saber do trabalho da câmara municipal mas o resultado só sai na próxima semana. Candidatou-se à vaga para a recolha de lixo. É uma ocupação estável, sem os reveses da pesca e das obras. O passo está dado. Resta aguardar que as preces a S. Pedro sejam atendidas. E não cruzar os braços entretanto. Ele sabe melhor do que ninguém que sem esforço não há sorte que o valha. No caminho, passa pela praça a espalhar que está mais disponível. E, pelo sim pelo não, entra na tasca do Chico para apostar umas patacas no jogo do bicho. Há que atacar em todas as frentes…
A semana foi lenta de custosa que foi. Mas já passou. O dia desperta com céu azul. Apesar de frio. Só por isso a boa disposição é um dado adquirido. Apesar do nervosismo. Hoje é dia de saber quem é o novo auxiliar de limpeza urbana. Joaquim não pregou olho a noite toda e vai na terceira bica. O que não ajuda nada. Ansiedade mais cafeína é ansiedade ao quadrado. Seja como fôr, o resultado está a ser afixado e já não há nada a fazer. À espera do lugar estão seis homens. Uns mais contidos do que outros.  Mas todos bastante necessitados. Finalmente, a funcionária administrativa lê em voz alta o nome do contemplado: Joaquim Manuel Freitas da Silva. O garanhão deixa escapar duas lágrimas gordas. De alívio. Felicidade. Gratidão.