Thursday, February 09, 2012

Ele chega primeiro. Dez minutos antes da hora marcada. Como combinado, aguarda no terraço onde os ilhéus acenam a quem chega e parte de avião. Maria do Mar aparece pouco depois. De vestido estampado, botas altas e cabelos soltos. Ainda mais bonita do que ele a tinha na memória. Vêem-se logo e seguem ao encontro um do outro. Quase em slow motion, como nos filmes românticos. Mais pelo fraquejar das pernas do que pelo estilo. Estão os dois nervosos. Ela um pouco mais, a avaliar pelos maneirismos. Em socorro, Miguel sugere um passeio pela marginal de Santa Cruz. Ela diz que sim. Seguem lado a lado. Trocam algumas palavras. Quase sem  olharem na direcção um do outro. Como é ridícula a paixão no estado embrionário. E linda.
Seguem o passeio. Vão ver a praia. Ficam horas entregues ao deleite dos sentidos. A vista que acaba no horizonte, a meias com o céu azul klein. O cheiro acre e salgado a mar. O mumurar das ondas minúsculas a desmaiar nos calhaus. Serenados, a conversa flui mais ligeira, entre uma e outra risada. A cumplicidade configura-se a pouco e pouco. E à troca de olhares mais demorada, sucede a troca de um beijo. Do jeito mais desajeitado que a metáfora permite. "Tão fugaz que nem deu/ para ver como era o fogo/ que a tua (dela) boca prometeu." Como tão bem escreve Tê e não menos bem canta Rui Veloso.