Tuesday, June 19, 2012


Saboreiam o jantar sem os grilhões do tempo. Com vagar. Porque com vagar deve ser feito o que se faz com prazer. O diálogo é raro e de poucas palavras. O essencial não precisa de signos. Está escrito nos olhos dele e dela. E no bater descompassado do coração de ambos.
Deliciados de palato e prenhes de amor, declaram-se a cada gesto. O quadro é perfeito. Tão perfeito que irritaria qualquer testemunha. Tão perfeito que uma vírgula estaria a mais. Mas, assim do nada, surgem umas reticências... Alguém toca à porta. Ele muda a expressão. E vai ver quem é. Ela, como que por osmose, também muda a expressão. E espera por ele.
Do lado de fora, uma voz feminina faz-se ouvir. A convidada não percebe as palavras da "intrusa". Mas advinha-lhes o significado. É um pedido de explicação. O tom está acima ao de uma conversa de circunstância. Quase exaltado. O quadro, que era perfeito, evidencia pequenas fissuras. Umas a seguir às outras. Há aqui uma história mal contada. Ou simplesmente ocultada. Para um ou outro lado. Talvez para ambos. O esclarecimento urge. E a espera torna-se longa. Maria do Mar perde a paciência e segue na direcção da porta. Não se vive uma história de amor por cima de um equívoco…