Saturday, July 07, 2012


É o primeiro sobressalto na história deste amor tão acabado de começar. Outros sobressaltos virão. Uns menos doces. Uns mais amargos. Porque o coração da mulher não está preparado para amar. Sempre que ama desassossega. E só aquieta quando o amor prescreve. É assim desde sempre. Não há nada a fazer. Apenas almofadar um ou outro impacto. Maria do Mar ainda não sabe que é assim. Não viveu o bastante para saber. Saberá a seu tempo. Daqui a muitos sobressaltos.
Voltaram à sala de jantar. Ele, como se nada tivesse acontecido. Ela, envergonhada, a esforçar-se por isso. Sentam-se e pegam ao mesmo tempo no copo. Uma coreografia espontânea. Miguel propõe um brinde. Ao amor, claro. De olhos nos olhos. Apregoam os supersticiosos que se assim não for são sete anos de mau sexo. E ninguém merece. Menos ainda estes dois que mal o desfrutaram.
Segue-se a sobremesa. Ele dirige-se à cozinha. Ela fica onde está. A saborear o vinho e a música. E o calor suave do amor, que só os poetas sabem escrever.

Monday, July 02, 2012




Trémula e sem saber o que dizer, dirige-se aos dois interlocutores. Ao ouvirem passos, calam-se ambos. Olham-na, curiosos. Ao deparar-se com eles, o receio da ainda menina de Câmara de Lobos cai por terra. No lugar dele fica o embaraço. Pelos disparates que lhe passaram pela cabeça. Pela ousadia de ter ido até ali. As palavras escapam-se-lhe. Ao Miguel também. O constrangimento de um e de outro faz ruído no silêncio. 
A visitante decide aligeirar a tensão.  Atalha por uma espécie de cumprimento: “Boa noite. Eu sou a Benvinda. Apesar de não ter vindo em hora oportuna. Peço desculpa por invadir o vosso jantar romântico. Mas o assunto que me trouxe não podia esperar. Já estou de saída.” E, de sorriso conciliador, faz saber: “Um dia destes quero conhecê-la. Maria do Mar, não é? O meu filho tem falado de si…” 
Fica a lição. Nem sempre o fumo é indício de fogo.