Thursday, August 16, 2012



De volta à sala, Miguel traz sorvete de maracujá. E saudade do azul de mar revolto dos olhos de Maria do Mar. Dos lábios decalcados de morango. Da pele macia e doce. E da inspiração daquela menina/mulher que alenta a sua vida de homem e artista. Antes de pousar o gelado, vai ao encontro dela e beija-a sôfrego. Com o desejo incontido (porque o desejo não se contém quando se o tem). Com a vontade alvoraçada de quem esteve afastado por bem mais do que dois minutos. É o desespero da paixão. Inflamada. Tão inflamada que não sabe dar tempo ao tempo. Até porque há sempre tempo para ter tempo.
Deixam a mesa. O momento pede outro espaço. A chaise longue de pêlo de pony parece-lhes oportuna. Declinados, saboreiam o sorvete. A cada colher descobrem-se mais próximos. Mais físicos. Mais ateados para o fogo que se avizinha. A taça dele fica vazia. A dela também. Já não há tempo para o café. A tesão é descomunal. Implora por outros sabores. Outros sentidos. Outro espaço.