Wednesday, November 19, 2014



Os convidados acabam de sair. Miguel está derreado mas exultante de orgulho e felicidade. A inauguração correu bastante além das expectativas. Três peças vendidas, outras três encomendadas. Contas feitas, o próximo ano vai ser desafogado. O que lhe dá margem de manobra – que é como quem diz, tempo e dinheiro - até apresentar novos projectos.
É hora de festejar a dois. Um último brinde antes do jantar. Olhos nos olhos. Porque os olhos dele e os olhos dela se interceptam. Com a urgência de quem pressente uma noite de amor. Olhos nos olhos. Porque não se  brinda sem contacto visual. Olhos nos olhos. Porque se assim não fôr são sete anos de mau sexo. Diz a crença do povo. E pelo sim, pelo não, o melhor é não contrariar.
A mesa preferida do restaurante preferido aguarda-os. Com a placa a dizer reservado, a toalha de pano crú bordado, os pratos Vista Alegre, os talheres, os copos do Ikea. E o vaso de flores singelas em tons laranja a amornar o ambiente. Fica no canto junto à janela que deixa ver o rio.
Sentam-se e, antes de olharem as ementas, perdem-se na paisagem. Estão enamorados. Mais ainda do que alguma vez. 

Tuesday, November 04, 2014



Só agora repara. São cavalos marinhos! Cavalos marinhos a três dimensões feitos de sucata de cobre. Enormes. Coloridos. Imponentes. Suspensos por um fio que os faz mover ligeiramente, criando o  efeito de coreografia. E a cada movimento, consoante a incidência de luz, vão assumindo as cores uns dos outros. Tal como os verdadeiros, mimetizam. Um festim para os olhos.
Maria do Mar está encantada. Não apenas pelo que vê, que por si só é tanto. Mas pelo significado (oculto) dos signos escolhidos por Miguel. A sua paixão por cavalos marinhos vem dos tempos de gaiata. De quando se esgueirava mar adentro à procura deles. Porque os vira num documentário e se perdera de fascínio.
Agora percebe o secretismo. Há meses que lhe era interdita a entrada no atelier. Uma surpresa. E que surpresa… Explica tanto mais que todas as palavras que têm sido ditas, juntando às outras que têm ficado por dizer. 

Sunday, November 02, 2014


“We are mosaics - pieces of light, love, history, stars - glued together with magic and music and words.” A frase de Anita Krizzan está projectada na parede principal da galeria e resume o conceito da exposição. Afinal é mais do que a anunciada mostra de escultura. É uma instalação. As peças intercalam-se com frases da jovem poetisa eslovena descoberta por Miguel nas redes sociais. Em pano de fundo, ouve-se Amália.
É dia de inauguração. Dezoito horas. Os convidados chegam à vez. Amigos próximos e distantes, galeristas, artistas plásticos, jornalistas e curiosos. E Maria do Mar. Vem deslumbrante. Num vestido rosa pálido que faz sobressair o azul ou verde dos seus olhos. Esmerou-se para a ocasião.
Está nervosa. Tão ou mais que o artista. Ampara-se num flute de kir royal e ensaia meia panorâmica à sala à procura dele. Até que os olhos de um se encontram nos olhos do outro. E os corações de ambos se aquietam. E, ao mesmo tempo, explodem embevecidos.