Thursday, October 15, 2015


Londres, Paris, Roma…
Indecisa, escolhe Porto Santo para o retiro. Antes, mata saudades da família na Madeira. Porque as saudades também se matam. Embora insistam ressuscitar.
Chega à ilha dourada sem qualquer programa. Apenas a semana de estadia e dois ou três livros para ler. Fica num quatro estrelas simpático mesmo em cima da praia. De manhã, logo cedo, segue o ritual dos passeios. Vai do cais à Calheta e volta, sempre à beira mar. De pés descalços, entrega-se ao salpicar das ondas, deixando pequenos decalques na areia. Aqui e ali apanha conchas e pedrinhas, para as devolver mais à frente.
Em comunhão com a natureza, tudo se torna mais simples. Lembra-se de quando era criança e feliz. Com tão pouco (ou tão muito, como agora tem a certeza). A respiração fica tranquila. Os pensamentos, claros. Os sentimentos, leves. E, com a benção do mar, volta a sentir uma alegria sem tamanho. 

Tuesday, September 29, 2015



A menina de Câmara de Lobos deixa-se de merdas e reconhece a fragilidade do momento. Afinal, a euforia é irmã gémea da depressão.
Está triste. Ponto. Não adianta armar-se em alegre se os seus olhos de mar agitado estão melancólicos. Está de coração partido. Ponto. Ou talvez ponto e vírgula… Mas de pouco serve procurar amor em ocasionais abraços musculados. É iludir a cama que, logo a seguir, fica ainda mais vazia.
“A vida necessita de pausas.” A frase de Carlos Drummond de Andrade, lida por estes dias num lugar qualquer, tem agora a força de um mantra. Como se ele a tivesse escrito inspirado em Maria do Mar. Ou melhor, com o propósito de inspirá-la. Ela assim entende. E decide fazer uma viagem. A solo.

Tuesday, September 01, 2015


Por vezes, a maior parte das vezes, a dor tem de ser sentida. Não há como contornar. Podemos adiá-la, adormentá-la ou mascará-la. Mas ela continua lá. Até ser sentida, não passa.
Maria do Mar sabe que está na hora de a confrontar. Estende-lhe os braços e recebe-a. De peito aberto. Sem medo da impiedade que chega.
Do lado de fora da janela, o céu mostra-se solidário. Não pára de chorar. Em nome das lágrimas reprimidas. E das trocadas por gargalhadas histriónicas.

Wednesday, August 12, 2015



Esta flôr destaca-se. Tem uma simplicidade comovente. E um cheiro singular. Inebriante. Mas ainda não é amor. E tão pouco a ideia que todos fazem do amor. Que é bastante melhor do que o amor.
Maria do Mar está na fase borboleta. As borboletas desconhecem o amor. Apenas sabem de encantamento. 
Maria do Mar sabe também que esta flôr beija quase do tamanho de um abraço. Basta-lhe. 

Thursday, July 23, 2015


Por agora, o importante é sentir. Maria do Mar sabe que para ser feliz precisa de abrir mão das expectativas. Essas cabras manhosas. Sabe, mais do que nunca, que cada dia é um dia. E pouco vale o dia anterior. E menos ainda o que se segue.
Torna-se multipolar, sendo tantas pessoas ao mesmo tempo. Menina. Mulher. Puta. Recatada. Misteriosa. Livro aberto. 
Vive assim semanas e semanas de vida desprendida. Sem prestar contas a quem quer que seja. Nem a ela própria. Porque de momento o mais que pode fazer é sentir. E deixar fluir sem contornos nem embaraços. Deixar fluir como se o tempo não acabasse. Deixar fluir. Sem permitir que a dor exista.

Tuesday, July 14, 2015




“Tenha cuidado com a tristeza, é um vício.” Flaubert tem razão. Maria do Mar sabe que é assim. E segue a vida sem os nós do passado. A não ser uma ou outra memória sorrateira. Foi breve o período de luto. Doído. Confuso. Ensopado de lágrimas. Indagado. Mas breve.
Um dia, sem pré-aviso, sai do casulo. Como a borboleta. E dá o ar da sua graça. Mais desajeitada do que graciosa. Sem saber em que flores poisar. Em pleno estado de alucinação, esvoaça por entre umas e outras. O importante é perceber que sabe voar. 
E percebe.