Maria do Mar acorda a pensar no António. Sente-lhe a falta. Há três ou quatro dias que não o vê. “Logo, logo vou ter com ele”, decide em tom marotinho. Deve andar pela praia. Quase de certeza. Não sabe bem o que se passa mas estar apaixonada é uma forte possibilidade. Só de pensar o coração quase lhe salta do tórax. Levanta-se e corre a tomar o pequeno almoço. Não há tempo a perder quando o amor dá sinais. Já dizia o poeta “é urgente e fundamental”. Lava a cara, apanha o cabelo num rabo de cavalo, põe o creme da mana mais velha, refundido na gaveta, e corre para o calhau na expectativa de o ver. Estão os amigos, ele não. Fica por ali a passear junto à babujinha. A olhar desesperada para todos os lados. Quase o clona nos rapazes alourados que vê passar. E até nos menos alourados. Porque o coração vê mal com os olhos…
Não consegue ficar por ali. O sol está a agoniá-la. Julga ela ser o sol, pouco ou nada habituada à vertigem do amor. Sai da praia a correr até os lados da casa dele. A vontade é de chorar. Quando o vir, dá-lhe um beijo. Como ele tantas vezes pede. Tem a certeza que não passa de hoje. Apesar de não saber como se faz. “O nariz deve atrapalhar bastante. E como é com a língua?” Receios que agora parecem vagos. Agora que sabe mais do que nunca o que é uma pessoa importante. Agora que tem as pulsações descontroladas. Agora que dava tudo para o ter perto...
1 comment:
Muito bonito Graça,como sempre.
Um beijinho.
Artur
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