Saboreiam o jantar sem os
grilhões do tempo. Com vagar. Porque com vagar deve ser feito o que se faz com
prazer. O diálogo é raro e de poucas palavras. O essencial não precisa de
signos. Está escrito nos olhos dele e dela. E no bater descompassado do coração
de ambos.
Deliciados de palato e
prenhes de amor, declaram-se a cada gesto. O quadro é perfeito. Tão perfeito
que irritaria qualquer testemunha. Tão perfeito que uma vírgula estaria a mais.
Mas, assim do nada, surgem umas reticências... Alguém toca à porta. Ele muda a
expressão. E vai ver quem é. Ela, como que por osmose, também muda a expressão.
E espera por ele.
Do lado de fora, uma voz
feminina faz-se ouvir. A convidada não percebe as palavras da "intrusa". Mas
advinha-lhes o significado. É um pedido de explicação. O tom está acima
ao de uma conversa de circunstância. Quase exaltado. O quadro, que era
perfeito, evidencia pequenas fissuras. Umas a seguir às outras. Há aqui uma história mal
contada. Ou simplesmente ocultada. Para um ou outro lado. Talvez para ambos. O
esclarecimento urge. E a espera torna-se longa. Maria do Mar perde a paciência e
segue na direcção da porta. Não se vive uma história de amor por cima de um
equívoco…
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