De volta à sala, Miguel
traz sorvete de maracujá. E saudade do azul de mar revolto dos olhos de Maria
do Mar. Dos lábios decalcados de morango. Da pele macia e doce. E da inspiração
daquela menina/mulher que alenta a sua vida de homem e artista. Antes de pousar
o gelado, vai ao encontro dela e beija-a sôfrego. Com o desejo incontido
(porque o desejo não se contém quando se o tem). Com a vontade alvoraçada de
quem esteve afastado por bem mais do que dois minutos. É o desespero da paixão.
Inflamada. Tão inflamada que não sabe dar tempo ao tempo. Até porque há sempre
tempo para ter tempo.
Deixam a mesa. O momento
pede outro espaço. A chaise longue de pêlo de pony parece-lhes oportuna.
Declinados, saboreiam o sorvete. A cada colher descobrem-se mais próximos. Mais
físicos. Mais ateados para o fogo que se avizinha. A taça dele fica vazia. A
dela também. Já não há tempo para o café. A tesão é descomunal. Implora por
outros sabores. Outros sentidos. Outro espaço.
2 comments:
Belo texto!
Muito obrigada. :)
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