Os convidados acabam de sair. Miguel está derreado mas exultante
de orgulho e felicidade. A inauguração correu bastante além das expectativas.
Três peças vendidas, outras três encomendadas. Contas feitas, o próximo ano vai
ser desafogado. O que lhe dá margem de manobra – que é como quem diz, tempo e
dinheiro - até apresentar novos projectos.
É hora de festejar a dois. Um último brinde antes do
jantar. Olhos nos olhos. Porque os olhos dele e os olhos dela se interceptam. Com
a urgência de quem pressente uma noite de amor. Olhos nos olhos. Porque não se brinda sem contacto visual. Olhos nos
olhos. Porque se assim não fôr são sete anos de mau sexo. Diz a crença do povo.
E pelo sim, pelo não, o melhor é não contrariar.
A mesa preferida do restaurante preferido aguarda-os. Com
a placa a dizer reservado, a toalha de pano crú bordado, os pratos Vista Alegre, os
talheres, os copos do Ikea. E o vaso de flores singelas em tons laranja a amornar o ambiente. Fica no canto junto à janela que deixa ver o rio.
Sentam-se e, antes de olharem as ementas, perdem-se na paisagem. Estão enamorados. Mais ainda do que
alguma vez.
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