Friday, January 25, 2008


O autógrafo

Um frémito de emoção... Foi o que senti esta manhã no metro. À minha frente estava sentado o alpinista português mais conhecido do momento: João Garcia. Esse mesmo. Aquele que ficou com o nariz parcialmente desfeito e sem a extremidade dos dedos. Aquele que, como tantos outros, arrisca a vida sempre que se aventura numa expedição. Em nome de um objectivo desafiante: ir mais longe. Ir mais longe na escalada da montanha. Ir mais longe fisicamente. Ir mais longe na espiritualidade.
Assim que o metro arranca, um adolescente de look desportivo destaca-se do grupo que o acompanha e dirige-se a João Garcia. De olhos esbugalhados e sorriso rasgado, estende-lhe o caderninho quadriculado e a esferográfica. Por uns segundos, fica suspenso em silêncio num misto de embaraço e excitação até conseguir esboçar duas palavras: “Um autógrafo”. E volta a repetir: “Um autógrafo”. O "se faz favor” não sai. Fica-lhe preso na garganta. Tal é o medo do ridículo aos olhos dos amigos. O medo é injustificado, apetece-me dizer-lhe. Afinal não está a abordar um emergente da ficção televisiva. Trata-se de um herói nacional e, com a humildade de quem escalou os Himalaias e outros gigantes da natureza, retribui o pedido. Com os “côtos” da mãos, o alpinista recebe o caderno e deixa ficar algumas palavras antes de o devolver. Não sei o que escreveu. Mas pressinto uma mensagem bonita.
Ao aceitar o autógrafo, o jovem sorri e faz que sim com a cabeça numa coreografia nervosa e desajeitada. Uma vez mais, a timidez silencia-lhe as palavras. Percebo-lhe a emoção. Também a senti. Sentimos os três.