Monday, June 23, 2008

Juntos mas separados

É incrível o número de casais de meia idade que encontro na rua. Quase todos – sobretudo os de clásse média e média baixa – convergem numa particularidade: o elemento masculino caminha cerca de um metro à frente. Não vão de mãos dadas. Não vão abraçados. Nem sequer vão lado a lado. Ela até por vezes dá uma espécie de corridinha intercalada para poder acompanhá-lo. Mas logo, logo, ele volta a destacar-se e assume a dianteira. Como que a deixar bem claro: “Calma aí, nada de confianças. Vamos juntos mas separados.”
Ainda hoje num raio de meio quilómetro observei esta espécie de coreografia em três pares distintos. Que coisa! Juntos. Mas separados.
Um quadro ilustrativo do nacional machismo. Mas por que se adianta ele aqueles centímetros? Pretende abrir alas para a mulher passar? Quer fazer-se passar por “single”? A mulher causa-lhe embaraço? Ou, simplesmente, está farto de a aturar?
Seja qual for a motivação, é triste. É triste ver de fora. Ainda mais triste deve ser sentir por dentro.

Tuesday, June 17, 2008

Santa Maria Mãe de Deus

“Santa Maria Mãe de Deus!” O piropo mais simpático que um desconhecido me dirigiu. E tenho ouvido muitos por estes dias. Não por ser irresistível mas porque ao lado da minha casa está a ser concluída uma mega obra de construção. Se é que me faço entender... Voltando ao piropo, não é inédito. Não deve uma palavra à imaginação. Foi proferido por um trolha sem rosto. E evoca o nome de Deus em vão... Mas trazia com ele alma. E expressividade.
Soube-me mesmo bem ouvi-lo. Sobretudo porque surgiu dois dias depois de outro. “Esta gaja não vale um c...” Juro que teria ignorado não fosse o contexto. TPM. Poucas horas de sono. Desconforto em relação à toilete acabada de escolher. E, sejamos francos, uma afirmação desta natureza é efectivamente demolidora. Deixou-me devastada. Não que dê importância a estes “mimos” de rua. Mas doeu. Nunca ninguém me tinha descrito com tão baixos predicados. Não na minha cara. É que fora dela tanto me faz. A sério. Mas não, foi dito em voz alta. Ao vivo e a cores.
No mesmo instante, senti alguns pares de olhos anónimos sobre mim. Todos eles ávidos de curiosidade. Mal ou bem intencionados, todos olharam. Motivados por um desafio pouco dignificante. Ver a gaja que “não vale um c...” O que terão concluído? Valia ou não o dito membro? Continuo sem saber o que ficaram a pensar.
Mas, já agora, deixo-vos uma reflexão: qual o “valor de mercado” do respectivo? Como se avalia? Que premissas estão em jogo? É só para aferir a lógica da ilação que acabo de inventar: "Este c... não vale uma gaja." Que tal?
Santa Maria Mãe de Deus...

Monday, June 02, 2008

Diferença irritante

A par da óbvia diferença anatómica que distingue os homens das mulheres há um rol de sensibilidades que são específicas de umas e de outros.
A forma como vêem o contexto das coisas, por exemplo, é diametralmente oposta. Eu explico melhor. O sentido de oportunidade não significa o mesmo nas versões feminina e masculina. Aliás, a meu ver, os “machos” são mesmo destituídos desta noção. Por outro lado, as “fêmeas” dão por norma muita atenção aos enquadramentos...
Passo a ilustrar, a mulher raramente se atreve a comprometer o primeiro encontro, um jantar especial ou um momento romântico com o relato de um “flirt” antigo. Não interessa o quão antigo seja. Não interessa que pouco ou nada tenha significado (se nada significou por que se evoca o assunto?). Não interessa que a história tenha apontamentos de humor (a vontade de rir passa assim que a interlocutor(a) percebe que o centro da atenção é alguém que já esteve no seu lugar!). Interessa menos ainda saber de quem se trata. A abordagem é simplesmente desadequada.
Há momentos que devem acontecer apenas a dois. Sem fantasmas. Nem fantasminhas. Ponto final.