Ao encontro do desencontro
Enquanto lanchávamos, a Maria confidenciou-me as regras que orientaram (ou desorientaram a sua vida nos últimos meses. “Deixei de fazer perguntas. Mesmo que a intenção fosse meramente trivial. Não queria que o meu interesse se confundisse com desconfiança ou curiosidade desnecessária. Deixei de opinar. Por perceber que as minhas opiniões pouco importavam. Ou apenas importavam quando iam ao encontro das dele. Deixei de queixar-me. Por entender que afectava a atmosfera de boa energia que desejávamos. Deixei de conversar. Por recear perguntar, opinar ou queixar-me. Deixei de dormir. Porque as perguntas, as respostas e as declarações que reprimi passaram a atormentar-me quase todas as noites...”
“Meu Deus, Maria! E agora, o que vais fazer?”
“Não sei bem. Ando à procura do meu Ego. Entendes?” E , com um sorriso maroto, a contrastar com a atmosfera, ironiza: “Perdi o norte. E o sul também...”
Estava ainda a assimilar a informação e a procurar propiciar-lhe algum conforto, quando a minha amiga conclui o desabafo: “Para já, vou tratar dos papéis do divórcio. É estranho. A ideia era ser a mulher dos sonhos dele. Em vez disso, ele tornou-se o homem dos meus pesadelos.”