Tuesday, September 27, 2011

Quando te abracei esta noite era um abraço que queria de volta. Por cima e mais forte do abraço que te dei. Com a garantia de consolo absoluto “estou contigo, não tenhas medo.” Era esse o abraço que procurava. Quase com a mesma sede de quem não bebe água há dias e dias. Esse abraço que só tu podes dar. Capaz de ridicularizar as dúvidas e os medos que trago.

Não contava com as palmadinhas condescendentes. Ao jeito das que dava a minha avô quando ainda a tinha por perto. Como se dissesse “tem calma, filha. Já passa.” Duas ou três palmadinhas. Tão confortantes outros tempos. Tão fora de contexto esta noite. Teria preferido os teus braços à volta de mim. Abraçando os meus à volta de ti.

Wednesday, September 21, 2011



Quem tem boca…

O dia foi intenso. Sendo que intenso é um eufemismo de esgotante. Dois castings na agência de manhã, reunião na Plural depois do almoço e, já ao final da tarde,  casting para o Portugal Fashion. Dezenas de manequins e outras dezenas de aspirantes no burburinho próprio da idade. A inquietação, o corre-corre, o despe e veste, as perguntas pertinentes e as desnecessárias, as risadinhas, os beijinhos e os abraços…
No caminho de volta a casa, trago a convicção de missão cumprida.  Trago  também cansaço como se tivesse feito três aulas de rpm seguidas. Na estação da Baixa Chiado, deparo-me com um corredor mais cheio do que é habitual. Talvez seja dia de futebol. Talvez o metro esteja atrasado por falha técnica. Talvez apenas mais pessoas tenham decidido passear por estes lados. Seja como for, descubro um espaço vago no assento. “Vem mesmo a calhar.”, regozijo-me. A espera do metro, apesar de curta, faz-se melhor sentada. Sobretudo com a quebra de vitalidade que trago. Corro no encalce. Mas antes de me “espojar”, indago a senhora do lado, que tem à vontade  setenta e cinco anos.
“Quer sentar-se?”
“Eu não, fía. Amanhã no avião temo muito tempo pá sentá.”
É brasileira. Está acompanhada do marido. É o último dia de férias deste lado do Atlântico.
-“Gostaram de Lisboa?”
-“Góstamo muito. A genti ficou conhecendo mais que Lisboa. Andamo viajando pela península toda. Fizemo Lisboa, Évora, Faro, Murcia, Barcelona, Madrid, Porto e de novo Lisboa.”
-“Foi um passeio e pêras! Viajaram como?
-Andamo de avião, ônibus, trem, metro e também a pé. Uma maravia. E sem falá esponhóu. Mas quem tem boca vai na Roma, fia.”
- E hoje, aproveitam mais um pouco?”
-“Já chega. Hoje é jantá, aprontar as mala e discansá. Estamo de férias tem mais de um mês, fia." 
Casal encantador. A transbordar jovialidade. Em confronto, o cansaço que trago sente-se envergonhado.

Thursday, September 15, 2011

A modos que me sinto vagamente perdida. Não sei se é por conta da crise dos 40 ou da crise económica. Talvez muito por culpa de ambas. E um pouco de outras tantas. Crises é o que mais abunda por entre as nossas vidas. Refilam como as ervas daninhas.
As crises e as oportunidades. Claro. Tem tudo a ver com os olhos que vemos. O olhar é essencial. O ângulo também é importante. Talvez até mais do que aquilo que se vê.
Hoje acordei com os olhos embaciados. Talvez porque o Sol se envergonhou por detrás de uma nuvem imensa. Talvez porque a porta se encostou. Ao invés de estar aberta de par em par, como eu gosto. Talvez porque os sonhos - de que não me lembro - me atazanaram o espírito pela noite fora. Talvez porque ao acordar não estavas no lugar ao lado do meu.
Com o passar das horas passou o desânimo. O lugar da crise foi arrebatado pela oportunidade. O Sol, num jogo do gato e do rato, foi espreitando à laia de brincadeira. A porta escancarou-se. Com o teu sorriso por detrás dela. Os meus olhos brilharam humedecidos. E gratos de felicidade.

Friday, September 02, 2011

Com TPM


Estou a precisar de estar comigo.
Apenas comigo.

Sem troca de palavras.
Sem ruído.
Sem concessões.
Ser senhora do tempo e do espaço.
Apenas comigo.
Para então ter vontade de estar contigo.


Sem TPM


Sem ti nada sabe ao mesmo.
O dia é um enfado.
A noite um enfado maior.
O jantar é mecânico.
E a cama perde o cheiro.
O tempo e o espaço adensam o vazio.
Apenas comigo não tem graça.
Só faz sentido contigo.