É hora de cortar o cordão
umbilical e partir ao arrepio das emoções. É hora de confrontar o chamado “custo
de oportunidade”. É hora de dizer “até um dia destes” à mãe, ao pai e aos manos. É
hora de deixar para trás a terra, o mar, o sabor a peixe frito e o arco-íris
mais bonito do mundo. Maria do Mar está triste. Tão triste e perdida quanto
feliz e expectante. Tanto quanto é possível balançar entre dois estados de alma tão opostos.
É preciso largar o passado
para abraçar o futuro. Mesmo que, na transição, o presente doa. E dói quase
sempre muito. No aeroporto, a filha do meio de Joaquim e Maria do Amparo sente-se dormente. Quase ausente. Como se fosse outra pessoa a partir. Como se não passasse de uma
observadora desta despedida. Assim se defende da dor que tem.
E chega o momento do adeus.
Dos beijos e abraços apertados. Das recomendações e votos de boa viagem. Das
saudades loucas que já se sentem. Das certezas feitas dúvidas. E da coragem
feita medo. É tanta a emoção num tempo tão pequeno… A xavelha não consegue evitar
as lágrimas, que lhe caem obesas e atarantadas pelo rosto fora.
De repente, tudo é
assustador. A aventura de partir. A primeira viagem de avião. A despedida da
família. Até a serenidade do Miguel.
Que se despede da mãe com dois beijos e um “até já”.