Wednesday, October 17, 2012




É hora de cortar o cordão umbilical e partir ao arrepio das emoções. É hora de confrontar o chamado “custo de oportunidade”. É hora de dizer “até um dia destes” à mãe, ao pai e aos manos. É hora de deixar para trás a terra, o mar, o sabor a peixe frito e o arco-íris mais bonito do mundo. Maria do Mar está triste. Tão triste e perdida quanto feliz e expectante. Tanto quanto é possível balançar entre  dois estados de alma tão opostos.
É preciso largar o passado para abraçar o futuro. Mesmo que, na transição, o presente doa. E dói quase sempre muito. No aeroporto, a filha do meio de Joaquim e Maria do Amparo sente-se dormente. Quase ausente. Como se fosse outra pessoa a partir. Como se não passasse de uma observadora desta despedida. Assim se defende da dor que tem.
E chega o momento do adeus. Dos beijos e abraços apertados. Das recomendações e votos de boa viagem. Das saudades loucas que já se sentem. Das certezas feitas dúvidas. E da coragem feita medo. É tanta a emoção num tempo tão pequeno… A xavelha não consegue evitar as lágrimas, que lhe caem obesas e atarantadas pelo rosto fora.
De repente, tudo é assustador. A aventura de partir. A primeira viagem de avião. A despedida da família. Até a serenidade do Miguel.  Que se despede da mãe com dois beijos e um “até já”.