Wednesday, January 13, 2010

Que dor de cabeça, minina

Segue-se o relato exaustivo da conversa telefónica que escutei inadvertidamente durante a viagem de metro Oriente/Alameda. De registar que o discurso foi proferido em grande algazarra. Uma distracção para a minha leitura matinal. Irritante.
“Minina, já deixei de ser isquisita. Sabe, tenho 28 anos e não quero ficar sozinha. Desde que ele tenha dentes na boca (gargalhada estridente)… Há uns anos, ainda via se tinha barriga ou uma perna mais comprida que outra. Agora não. Enfim (gargalhada ainda mais estridente)… Mas sabes, já deixei de escolher gajos na noite. Na discoteca, sabes com’é: eles são uns gatos e elas umas deusas. Mas depois, à luz do dia, são um desastre aéreo (gargalhada histriónica). Nem pensar... Sabes o gerente daquela discoteca angolana, que já morreu? Uma vez, ele me disse: “tu és linda mesmo de dia”. Tinha ficado lá até de manhã. Ele disse logo: “à luz do dia é que se vê se as pessoas são lindas ou não.” E é verdade, minina. Já a Maria… Uma vez fui a casa dela e perguntei por ela à irmã. Acreditas que ela estava sentada no sofá e eu não a reconheci? À noite, monta-se toda e parece uma princesa. Mas de cara lavada não vale nada. É feia como um camião. Sim, é essa mesmo. O que é que tem? Afugentou o gajo, como assim? (pausa muito breve) Quero lá saber, eu também estou no metro, minina. Que é que tem? Eu quero é que todo o mundo se exploda! (pela parte que me toca, tive vontade de lhe meter a mão à cara. Juro que tive. Não satisfeita com a poluição sonora, esta agora também quer que eu exploda! Evoquei as máximas do reiki para não reagir.). Continuando… “Me conta o que aconteceu com ela. Então? Ok, não queres falar, não fales. Tu é que sabes… Vou agora p’ó trabalho e à tarde tenho aula de matemática. Destesto matemática, irra. O meu irmão é que tá bem. Ele é formado em matemática e ganha três mil dólares por mês. Sim, sim, o que tá em Angola. Em dezembro, comprou um jipão, minina. Vermelho. Mesmo lindo...”
Chegámos finalmente à Alameda. Como eu, a rapariga da converseta saíu lá. Sempre agarrada ao telemóvel. Como se fosse uma extensão da cabeça. Antes que ela se colasse a mim de novo, alarguei o passo. Não fosse levar com a monstra da verborreia até à Baixa Chiado. Ufa, que dor de cabeça.

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