Friday, February 26, 2010

“Mi casa es tu casa”

Lugar tranquilo que aquieta os sentidos. Para os desassossegar. Tranquilamente. Ninguém passa por La Comarcal por acaso. “O universo conspira” para que tal aconteça. Só pode...

La Parra, a 60 kms de Badajoz, é um lugar bucólico, com cerca de 1500 habitantes. Com gente serena e atmosfera tranquila. Tesouro guardado por entre pastos e oliveiras, onde a calma espreita no dobrar de cada esquina. Na melodia das aves, nas portas deixadas abertas pelos moradores casa sim, casa não, no vagar dos gestos, nos diálogos murmurados de quem vive um compasso de tempo que não é o nosso.
Foi neste lugar, onde nos chamam pelo nome próprio, que Lúcia Dominguín e Carlos Tristancho edificaram La Comarcal, um surpreendente hotel para viajantes. Casados há mais de vinte anos, os dois - artistas de vocação e carreira - abriram mão da movida de Madrid pela tranquilidade rural de Badajoz. Aqui se apaixonaram pela antiga casa senhorial do secúlo XVI, que já albergou o serviço comarcal de trigo (daí o nome La Comarcal). Há cerca de três anos, investiram três milhões de euros e meteram mãos à obra sem macular a traça original. Das longas discussões criativas e do sentido estético de ambos, surge a harmonia de um espaço de sonho.
Dois mil metros quadrados é a área total de La Comarcal. A fachada, discreta, não deixa advinhar a área que se expande depois de passar o portão de inspiração árabe.
Ao entrar, paredes meias com a recepção, fica a sala de degustação que exibe nas prateleiras preciosas caixinhas de madeira recheadas com sabores da Estremadura, como marmelada de figos, mel de eucalipto, patés, vinhos e azeites diversos.
Sobem-se alguns degraus e temos pequenos recantos de bem estar. É também o acesso a três das seis suites que constituem o hotel. Um pouco mais acima, estende-se a principal sala de refeições, que outrora foi lugar das cavalariças da casa. Os solos de pedra, originais, com desníveis e irregularidades, a que se adaptaram as cadeiras e mesas, marcam a personalidade do espaço. Os lavatórios da casa de banho comum, aproveitados das antigas mangedoras dos animais, são também sui generis. O restaurante dispõe ainda de pequenas salas para refeiçoes mais intimistas, onde não faltam sofás e pufs para os comensais desfrutarem da tão abençoada sesta depois de apreciarem as delicias gastronómicas da região. Pratos típicos confeccionados e servidos por donas de casa locais ( e não cozinheiras) que apresentam receitas recuperadas das mães e avós. A sopa de picadilho, a carrilhada de porco ibérico ou a simples sobremesa de morangos com sumo de laranja são algumas das iguarias que se podem desfrutar. Aqui o pretensiosismo não tem lugar à mesa.
Um pouco mais acima, fica a cozinha, a sala do pequeno almoço e as restantes suites. As encantadoras suites. Todas elas amplas, coloridas e com o intimismo das casas de campo. Cada uma com sua singularidade. A descomunal e surpreendente banheira de banho munida de dois chuveiros dourados. A cama de sonho com colchões especiais de penas de ganso, feita para o descanso e o deleite. O casamento entre os móveis recuperados das casas locais e outros desenhados de propósito. Cada um com sua singularidade.
Finalmente, o último lance de escadas. O que dá para o terraço com vista sobre a planície. Dali se vislumbra um pôr do sol único na quieta paisagem de La Parra.

No comments: