Wednesday, October 21, 2009


Até me frita a pipoca

A conversa que escutei no outro dia no metro podia ter resultado num momento risível. Mas o efeito foi outro. A minha pequena dor de cabeça adquiriu estatuto de enxaqueca. Uma jovem falava sobre a escassez de homens para uma relação séria nos dias que correm. O senão ficou entre o estilo e o tom de voz. Uma grande algazarra foi o que foi.
“Amiga, a sério, já não sei o que fazer. Não está fácil arranjar namorado. Estou farta de puxar pela cabeça. Até me frita a pipoca. Só te digo, deixei de ser esquisita. Sabes, tenho 26 anos e não vou ficar p’ra tia. Quero lá saber se não é bom com’ó milho. Desde que tenha dentes na boca (gargalhada estridente). Há dois ou três anos ainda reparava se tinha barriga ou uma perna mais comprida do que a outra. Agora já não (gargalhada ainda mais estridente)…
Mas olha, também não me envolvo com homens na discoteca. À noite, sabes como é, parecem uns príncipes. Mas depois, de manhã, são quase sempre um desastre aéreo (gargalhada histriónica). Nem pensar, amiga. Estás a ver o gerente daquela discoteca angolana, um que já morreu? Uma vez, ele disse-me “És mesmo linda. À luz do dia é que se vê.” Nesse sábado, eu tinha ficado lá até de manhã ( gargalhada escancarada)…
Diz? Quero lá saber, amiga. Também estou no metro e depois? Eu quero é que as pessoas que estão a ouvir se explodam!”
Pela parte que me toca, tive vontade de responder à letra. Juro que tive. Mas evoquei as máximas do reiki e decidi fazer que não estava a ouvir. Quando era pequena a minha avó ensinou-me que “para palavras loucas, orelhas moucas”.
Chegámos ao fim da linha. A jovem que deixou de ser esquisita seguiu com a conversa em alta voz. Eu segui com a dor de cabeça em alta escala. Segundo as palavras dela, “frita da pipoca”. Alarguei o passo já incapaz de “encaixar” a verborreia até o destino seguinte. 

3 comments:

Maria Ana said...

Ahahah, surreal.
Mas realmente é isto que se ouve.
Também era assim quando tinhamos estas idades? Não me lembro nada... O que aconteceu?

(...)

Beijos

Jotta said...

Não acredito. A sério. Até me frita a pipoca...

Luis Lopes said...

Sou já um cota de 40 e tais, e esta linguagem fascinante já não me surpreende.
Há uns 20 anos, quando os autocarros em Lisboa tinham 2 andares e eram verdes, també assiti a um diálogo de pitas e no Restelo, dizendo a proposito de um casalinho que passava na rua muito apaixonado ... "olha aquele, cheira-lhe a bafos de cona"