Wednesday, January 10, 2007

O que faço à semente que tenho dentro de mim?

Despenalizar ou não a prática do aborto? A questão está na ordem do dia. Quem me conhece sabe perfeitamente o que penso sobre o assunto. Enquanto mulher nem imagino assumir outra posição. Enoja-me tanta hipocrisia. Em nome da moral e do direito à vida (mas que vida?! E a partir de quando a vida é vida?).
Neste momento, confesso, a despenalização do aborto é a última das minhas preocupações. Foi apenas uma forma de introduzir-vos o dilema em que estou. Procuro desesperadamente uma resposta confortável à pergunta que me atormenta na última semana. O que faço à semente que tenho dentro de mim?
Noutros tempos, a resposta seria fácil. E pronta. Hoje, tudo é diferente. Faz-me falta ser mãe. Melhor dizendo: vai fazer-me falta ser mãe. Dito assim, parece um cliché de segunda categoria ( como se houvesse clichés de primeira!). Na verdade, sinto que estou no dead line da minha existência fértil. A natureza parece estar a testar-me. Uma vez mais. E não sei se me vai propiciar outras oportunidades. Vivo o meu estádio mais maduro. É agora ou nunca.
Vai ser nunca. Já percebi. E tenho pena. O relógio biológico é impaciente e não espera. Tem um timing estanque. Que, infelizmente, não coincide com o do meu quotidiano. Só por isso (desajustes de timing), nos tempos mais próximos ser mãe é impensável. Ele há muitas razões... Ausência das condições materiais indespensáveis à maternidade. E falta de backstage familiar. Sim, porque os meus pais estão longe fisicamente. Não posso contar com o colinho deles. Nem eu nem o bebé que gostaria de gerar.
Não é só isso. Como vou encaixar mais um ser na minha vida? Tão cheia de falta de tempo. Tão cheia de coisas minhas. Tão cheia de coisas nossas (minhas e do meu amor). Como ganho latitude para amar a três? Ainda não sou capaz de responder às perguntas que se digladiam entre o coração e a razão. Enquanto isto, só há uma saída para a semente que tenho dentro de mim. Deixá-la ir ao encontro do mar. Imenso. Azul. Infinito.

3 comments:

Anonymous said...

Para trazer um ser humano à terra é só preciso amor! Acreditar que os teus 50% + os 50% do outro vão resultar num ser maravilhoso, que irá fazer da sua vida aquilo que quiser. Tudo o resto vai aparecendo (por mais insensato que posso parecer).

Anonymous said...

Só somos gente porque alguém nos ama, a vida só faz sentido porque somos importantes para alguém. Com uma sementinha que uma Mulher tem dentro de si, é igual, ela é vida no momento em que a mulher que a deseja sabe que a vai gerar. A semente não tem vida para a Mulher que nunca a desejou e que não quer quando sabe que a tem. Mas um dia ainda vai a tempo de ser Mãe! Acredita.

Anonymous said...

minha querida,
enquanto mãe, que adiou durante muitos anos o momento da grande decisão pelas mesmas razões que tu expões: falta de tempo, de condições, etc, etc, só posso dar-te um conselho. Nada mas nada, nem realização profissional nem viagens incriveis nem o amor e paixão da nossa vida, mesmo nada é comparável ao sentimento pelo bébé que desejamos. Neste momento, que já sei o que isso é, tenho pena tenho pena verdadeira e não outros sentimentos negativos, pelas pessoas que dizem preferir ou por comoprioridade todas as outras coisas da vida não deixando espaço para a melhor de todas. Antes de ter o meu filho nao pensava assim e achava uma arrogancia e desplante uma mulher com filhos achar-se superior de alguma forma em relação a mim só por isso... mas agora compreendo. quem não passou por essa experiencia e tudo correu bem, claro, perde o mais importante da vida enquanto experiencia suprema de amor e misterio e sei lá o quê mais que não se consegue descrever. Ser desejas tanto e o relógio está a dar horas, vai em frente, não penses 2 vezes por casa de homem, condições monetárias ou pais ou que quer que seja. Vai em frente e vais ver o infinito, o mar, o azul, e todas as cores e sensações plenas do universo.Agora, também acredito que assim é, quando há o desejo puro e altruista de ter um filho e dar-lhe amor o resto da vida para o ajudar a ser um ser superior e bom. beijinhos