Monday, December 05, 2011

O caminho faz-se caminhando. Disse e muito bem Ortega y Gasset. Em sentido estrito, a caminho do  Liceu, Maria do Mar caminha determinada. Embora de coração ainda a sangrar. O confronto com António está a poucos passos de acontecer. Desde aquele dia que não o vê. Apesar da vontade que tem tido de o procurar. De pedir-lhe explicações. Enfim, de implorar que volte para ela.  Ao invés disso, tem calado a dor. Dentro dela. Dentro de casa. Hoje vai expôr-se pela primeira vez desde aquele dia. Está frágil. Tem os medos à flor da pele. O maior de todos é que ele perceba o quanto ela ainda sofre de amor por ele. O orgulho é uma coisa que Deus nos deu, muito oportuna em ocasiões como esta. É uma espécie de travão de mão para evitar embates emocionais mais duros.
O corredor está cheio de gente. Sobretudo junto às salas de aula. Mas a passar vem apenas uma pessoa no sentido contrário. António. Ainda dizem que não há coincidências! Vem em passos largos que se tornam mais largos e apressados quando a vê. Não estava à espera deste encontro imediato. Maria do Mar fica em sobressalto. Percebe o olhar dele na direcção dela mas passa como se não o conhecesse. Tem as pernas bambas, o coração acelerado e uma vontade quase incontrolável de chorar. Tem também uma grande revolta por sentir o que sente. E outra maior ainda por achar que para ele é como se nada fosse. Isso impede-a de desmanchar-se em lágrimas. “Era o que faltava…” E segue. Aparentemente serena. Tão magoada quanto orgulhosa.
A aula começa e de Kadhafi nem sombra. A aula continua e ele sem aparecer. Acobardou-se. Ela está só de corpo presente. Não escuta uma palavra da lição debitada. Envolta numa espécie de névoa. De olhos colados na porta. À espera que ele entre. Apaixonado de novo.





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