Friday, November 12, 2010

De metro até Paris


Esta manhã fui até Paris dos anos 50 e 60. Por entre os acordes de um músico errante. Fui de Metro. Entrei na Alameda e saí no Cais do Sodré. Quando era suposto sair na Baixa Chiado. Mas a distração valeu a pena. As melodias entoadas pelo acordeão tosco e grosseiro levaram-me a passear pela cidade da luz de outros tempos. Fui pela mão de Edith Piaf e Jacques Brel. Dei por mim a trautear “Ne Me Quitte Pas”, “La Vie en Rose” e “Non, Je Ne Regrette Rien”. Imaginei-me perdida, ou encontrada, na penumbra de fumo de um bar boémio, a ver e ouvir as duas grandes vozes do amor e do drama cantados em francês. Estava de vestido carmim com um decote generoso, acompanhada de figuras proeminentes da literatura como Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre, a beber champanhe e a exibir uma boquilha enorme (mais pelo estilo do que pelo vício). Um pouco ao estilo do Midnight in Paris de Woody Allen. Senti-me romântica. Senti-me inebriada. Senti-me feliz.
À saída perscrutei as moedas que tinha e deixei-as todas na caixa do Aladino que me transportou àquela atmosfera de sonho. Ao fazê-lo, senti-me tola. Quero dizer, fizeram-me sentir tola as pessoas que me olharam incrédulas e de sorriso trocista. Lamento se não visitaram Paris esta manhã ou alguma vez. Lamento se não ficaram arrebatadas de emoção com as vozes grandes ali evocadas. Lamento se não visitaram os cabarés parisienses nem deambularam pelas sumptuosas avenidas da capital. Não sei se o fizeram ou não. O que sei é que me olharam como se fosse feio “pagar” por uns minutos de prazer. Olharam-me como se estivesse a alimentar a mendicidade. Estava apenas a gratificar uma despojada manifestação artística. Ou nem tanto despojada. Já que a intenção do músico era angariar trocos. Mas que importa isso? Saímos ambos satisfeitos. Ele, com a caixinha menos leve. Eu, de alma mais cheia.

2 comments:

Anonymous said...

LINDO!!!!!!

ticha

Anonymous said...

Que lindo amiga! Com esta pequena descrição, fizeste com que momentaneamente, me senti-se também nas ruas de Paris!
É tão bom termos na nossa Lisboa, artistas que nos fazem sonhar acordados!