Monday, June 26, 2006

Amor a dois, sexo a três

Amor a dois, sexo a três... O tema surgiu por acaso numa improvisada tertúlia com as minhas amigas. Estávamos em casa da Sofia a tomar chá e a saborear a sua nova receita de scones e compotas. Eu mandei o tema ao ar. Não me lembro bem a que propósito. Lançado o mote, as opiniões quase se atropelavam para se fazerem afirmar.
Em comum, apenas tínhamos a noção de que uma das fantasias mais recorrentes dos homens é fazer sexo com duas mulheres ao mesmo tempo. E se fôr com a namorada e uma amiga – dela, dele ou de ambos - tanto melhor. Sabíamos também que as brincadeiras na cama a três (e até a mais) são cada vez mais uma realidade experienciada por muitos casais.
A Joana foi a primeira a manifestar-se. A ideia já lhe havia sido colocada pelo namorado. E, pelo vistos, era um tema muito sensível. “Para mim, é uma possibilidade absolutamente fora de questão. Quem ama não partilha. Quem ama não expõe a pessoa amada.”, afirmou com tal veemência que se fez silêncio. Mas apenas por breves segundos, já que a Kiki foi em seu auxílio. “Devo confessar que a ideia também me causa desconforto e até alguma repulsa. A sério que não me imagino a interagir sexualmente com uma mulher. A seduzi-la e, menos ainda, a excitar-me com ela.” E gracejou: “Acho que sou mesmo “bicha”, só gosto de homens.”
A Sofia não deixou o tema cair e arriscou: “Eu talvez alinhasse...”, iniciou como que a testar o nosso encaixe. “Para vos ser franca, essa é uma das fantasias que eu e o Jorge queremos partilhar. Aliás, fartamo-nos de falar sobre o assunto mas ainda não surgiu a oportunidade. Não nos apetece um “menage a trois” sem critério. A parceira desta aventura tem, em primeiro lugar, de alinhar connosco. E, depois, precisa de ser uma escolha de ambos... A cumplicidade nestas coisas é fundamental.”
“Como podes embarcar nisso?”, indagou a Joana, muito ciosa dos seus princípios (morais, feministas e outros que tais). E, mal disfarçando uma expressão de esgar, continuou: “Onde é que fica o teu amor-próprio? Achas que se lhe propuseres sexo com outro homem, ele vai aceitar? É claro que não. São tão egoístas, tão centrados no prazer deles e na afirmação da sua sexualidade.” Eu resolvi interceder:“Agora estamos apenas a falar da fantasia vista por nós, mulheres. O que eles pensam e sentem não é para aqui chamado.”
Mas a surpresa deste lanche de “gajas” ainda estava por revelar-se. A Vera, a mais amoral das minhas amigas, ainda não se tinha pronunciado sobre o assunto. Siderada com tanto preconceito e juízo de valor, resolveu dar um murro na mesa. No sentido figurado, obviamente, por respeito ao jogo de porcelanas da anfitriã. E, sem nenhuma de nós estar à espera, irrompeu: “Eu já fiz sexo a três. E adorei! So what? É sexo e é bom... Descobri que nós mulheres somos as melhores amantes umas das outras. Porque sabemos exactamente do que gostamos. E conhecemo-nos tão bem como nenhum homem, por mais habilidoso que seja, ousará sequer conhecer-nos.”
A Kiki e a Joana empalideceram com tamanha frontalidade. Mas, sem querer saber, a Vera continuou: “Vocês nem sonham o que perdem com esses pruridos todos. Dessa forma, nunca vão experimentar a que sabe uma mulher. Nem desfrutar da vertigem duma língua que conhece os caminhos que percorre... E atenção, eu não sou lésbica. Nem nada que se pareça. Simplesmente, deixei de olhar só em frente. Alarguei o meu campo de visão. Se quiserem, descobri em mim a bissexualidade que se esconde em todas nós.”
E fez-se de novo silêncio. Ruidoso e perturbador. Um hiato de vozes que eu resolvi quebrar com o primeiro cliché que me veio à cabeça.
A conversa continuou mas o assunto ficou por ali. Pelo menos, de forma verbalizada. E se cada uma de nós já sabia, saíu deste encontro com a certeza: não existem critérios estanques quando se fala de sexo. Nesta matéria, as decisões cabem única e exclusivamente às pessoas envolvidas. Afinal, para quê formatar? Já diziam as nossas avós: “Cada cabeça, sua sentença.”

1 comment:

Anonymous said...

Muito Sex and the City! Antevejo 10 edições no mínimo!