Wednesday, June 28, 2006

Eu estou bem

"Eu estou bem, obrigada. A sério." Com esta e outras respostas evasivas tento proteger a auto-estima que me resta. Foi o golpe mais duro da minha existência. O amor da minha vida concluíu que eu não sou o amor da vida dele. Isto, dois dias depois de ter dito que me amava muito, muito, muito. Isto, decorridos três anos de uma história de amor avassaladora, feita de cumplicidade e paixão. Isto, a apenas um mês de assinarmos a escritura da casa dos nossos sonhos. Está a ser uma surpresa gigante. Ainda por cima, mal fundamentada (como acabam por ser todas as rupturas amorosas). Afinal, "temos pouco a ver um com o outro". É o que ele diz. Cheio de propriedade, como se evocasse a razão mais válida do mundo. Eu gosto de poesia. Ele prefere filmes de acção. Eu gosto de passear ao domingo. Ele prefere ficar em casa a fazer zapping. Eu gosto de beijinhos na boca. Ele prefere cafonés na cabeça. Eu gosto dele. Ele não sei de quem gosta. E se gosta. Aliás, sobre ele cada vez mais "sei que nada sei". Na verdade, deixei de ter certezas quando o assunto é amor... Mas tenho a impressão de que estamos a abrir mão de um romance irrepetível. Daqueles que nos fazem perceber que a felicidade é possível (por mais pirosa que possa soar). Daqueles em que são mais as razões que nos aproximam do que as que nos separam. Daqueles que nos levam a assumir sem pruridos as "almas gémeas" que somos. Porque somos. Ou fomos... Eu gosto de uma boa gargalhada. Ele faz-me rir. Eu gosto de sushi. Ele gosta de sashimi. Eu gosto de dormir abraçada. Ele gosta de abraçar-me. Eu gosto de fazer amor com ele. Ele gosta de fazer amor comigo. Eu gosto dele. Ele não sabe que gosta de mim. Um dia há-de perceber. Ou talvez não. Seja como fôr, já pouco importa. Estou desencantada. O meu coração balança entre o amor que ainda sinto e o desamor que já se instalou. Se calhar, é o curso natural das coisas. Se calhar, os meus sentimentos perderam elasticidade. De tanto serem postos à prova. Se calhar, o homem que amei este tempo todo nunca existiu. Se calhar, não passou de uma projecção feita à medida do amor que eu tinha para dar.

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