Wednesday, October 19, 2011

     A baía de Câmara de Lobos é o berço que a embala desde gaiata. Com a pequena enseada de barquinhos de pesca de duas ou três cores por cenário. E o cheiro a mar que muda consoante os fenómenos naturais e outros menos ecológicos. Por ali se entretém quase todas as horas da sua insiginificante existência. Foi pouco à escola. Concluíu o ciclo básico. Os irmãos também. Os que estão ou já passaram pela escolaridade obrigatória. Quanto aos mais novos, o futuro talvez reserve surpresas menos boas. Logo se vê, conjectura o pai preocupado com a crescente austeridade que entra pelas casas pobres adentro. Estudar é para quem pode, conclui. Como quem diz que o que não tem remédio remediado está. Como no tempo dos nossos avós.
     Na verdade, Maria do Mar vive feliz sem escola. Não lhe sente a falta. Era sinónimo de vergonha. Os outros meninos e meninas tinham sapatos e mochilas. Ela ia descalça ou mal calçada. E levava o caderno e o livro de leitura num saco de pano costurado às três pancadas pela mana mais velha. Com o lápis, a borracha e o afia a  boiar fora do estojo em formato de joaninha que nunca chegou a ter. Apesar do amor platónico que por ele nutria quando escapava para a secção escolar nas idas mensais ao hipermercado. 


       (...) Continua amanhã

No comments: