Tuesday, October 25, 2011


      O dia amanheceu feio sob um céu escuro e ameaçador. O mar prenuncia forte tempestade. Por ora, apenas agitado com ondas espumantes de três e quarto metros. Maria do Mar sai quase à socapa, após intensa ladaínha de avisos. A mãe não a quer na rua em dias assim. “Nem te atrevas a chegar perto da praia ou do cais”, adverte-a com um ror de histórias de pessoas e automóveis arrastados pelas vagas impiedosas. Ela não tem medo das ondas. Prefere-as até revoltas. Mas por respeito hoje fica pelo centro da vila. O passeio não tem a mesma graça mas sempre é melhor do que ficar em casa. 
     Assim que apanha o pé na rua, corre desenfreada. Antes que a chamem de volta. É quando esbarra com Jens, turista dinamarquês de meia idade. Meia idade é eufemismo para idoso, pois passa à vontade dos sessenta e cinco anos. O bem sucedido empresário encanta-se de pronto com a fedelha de Câmara de Lobos. Aquele, desde que se entende por adulto, faz uso e abuso da inclinação por jovens imberbes. O desvio  influencia-lhe a escolha dos destinos de férias. Da Ásia à América Latina, passando por África, já pouco lhe falta explorar. É uma espécie de ave de rapina atenta às presas que encaixem nos seus caprichos. Sem juízo nem remorso.

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