Friday, October 28, 2011



      
      A mãe não insiste mas sabe que a história não é esta. Sabe porque todas as mães do mundo sabem sempre quando os filhos omitem ou dizem “menos verdades”. O coração das mães, para além de duas aurículas e dois ventrículos, tem um detector de mentiras para as conversas dos filhos. Maria do Amparo faz de conta que acredita e volta ao ferro de engomar. Mas fica desassossegada. E enquanto passa uma, outra e outra peça de roupa continua a cismar. Pressente mais ou menos o que terá acontecido. Já lhe chegaram aos ouvidos histórias daquelas. Algumas com desfechos menos felizes. A partir de agora vai estar mais vigilante. Não pode consentir que nada de mal aconteça às suas crias.
      Por ora chega de passeios. Assim decide a “chavelha” de olhos cinzentos, ora verdes, ora azuis. Consoante o céu, o mar e o vento que sopra do norte de África. Fica por casa, até porque daqui a nada é hora de jantar. Vai até o quarto dos pais onde a mana mais nova acordou e não pára de choramingar. “Ainda não é fome, comeu mesmo há pouco”, explica a mãe. Se calhar teve um pesadelo ou está simplesmente a fazer uso da única linguagem que domina. Mas mal percebe que vai ter colinho, o rosto da bebé ilumina-se. O choro cede lugar a soluços entecortados com  gargalhadas excitadas. Vai ter colo. E com direito a balanço. Por outro lado, vai ser espremida até a exaustão. Até Maria do Mar saciar o amor que lhe tem com beijos e “queridas”. Ou até a pequenina voltar a dar sinais de choro. Que é o mais provável.

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