Tuesday, October 18, 2011




       Maria do Mar. Este será o seu nome se não me lembrar entretanto do verdadeiro ou de outro mais  apropriado. Menina e moça vive em casa dos pais a sonhar conhecer mundo fora. Nasceu e tem crescido no seio de uma família pobre. E numerosa. Como são quase todas as famílias pobres. É uma das do meio de catorze irmãs e irmãos. Em número tão extenso é difícil dizer se faz parte do grupo dos mais novos ou mais velhos.
       Maria do Mar tem quinze anos, os olhos da cor do mar em dias de tempestade e o sorriso mais desconcertante que alguma vez se viu por aquelas bandas. Abre-se num descaramento tão puro que desarma os atrevidos. Esboço de sensualidade num corpo ainda de criança. Aparenta nada mais que doze anos. Come pouco e mal. Peixe miúdo que o pai traz do mar. O graúdo vende na praça pois nem só de peixe vive o homem e a sua prole. E come papas de milho com couve picada que a mãe mexe vagarosamente de colher de pau. Uma ou outra vez bebe brisa maracujá ou coca-cola, oferta de algum turista simpático ou apenas mal intencionado. Franzina, mal nutrida, maltrapilha. No entanto, doce e irresistível. 
       
       (...) Continua amanhã. 

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