Thursday, October 20, 2011

No seu minúsculo universo, o conhecimento tem ínfima importância. Sabe o suficiente para perceber as histórias que andam de mão em mão lá por casa. Que leu e releu dezenas de vezes em silêncio, tal o embaraço de soletrar mal as palavras que mal conhece. 
Maria do Mar prefere perder-se no mar sem horizonte. E sempre que avista um navio nele viaja para os destinos longínquos da sua imaginação. Por ali fica horas a fio a cismar. Até a mãe chamar por ela. Porque é preciso ajudar nas tarefas de casa, almoçar ou apenas recolher quando a noite a chega. 
Volta logo depois ou no dia seguinte. Descalça, desgrenhada e muitas vezes faminta. Não com fome mas com falta das vitaminas e sais minerais que o seu organismo ainda mal conhece. O que não a impede de correr e saltitar por entre as rochas. Brinca com pequenos calhaus à falta de barbies e jogos electrónicos. Calcorreia a praia de lés a lés à procura nem ela sabe do quê. Quase sempre só. 
Uma vez ou outra, troca cumplicidades com os rapazes da vizinhança. Coisas inocentes, apesar do já manifesto fervilhar de sexualidade. E das investidas marotas de quase todos. Do António em especial. O único que a faz sentir um misto de cócegas e arrepios na nuca e no estômago. A ele, e só a ele, exibe a minúscula cicatriz que ficou da operação à apendicite aguda. Uma vez ou outra, mostra um pouco mais. Os pequenos seios arrebitados e até mesmo a intimidade mais recôndita, guardada por um pequeno triângulo ainda pouco definido. 


Continua (...)

1 comment:

Ticha said...

Li os teus últimos posts de seguida.....o único defeito que encontro nesta tua introdução de Maria do Mar? a palavrinha final que diz "continua"....
Quero mais!!!!!!!! ADORO