Wednesday, November 23, 2011


António permanece sentado. Sem reacção aparente. Tem vontade de chamá-la de volta e correr atrás. Mas o desalento cola-o à cadeira. Como se tivesse desaprendido de andar. Sente-se desleal, triste, perdido. Pesa-lhe o sofrimento que está a causar. Pesa-lhe mais ainda o vazio que começa a sentir. Afinal está a desmerecer o primeiro amor. O único amor até há meia dúzia de dias. “Se ela não tivesse ficado em casa nada disto estava a acontecer…”, justifica em busca de conforto, referindo-se aos dois dias que Maria do Mar tem febre e falta às aulas.  É sempre mais fácil encontrar um bode expiatório quando o coração (nos) atraiçoa. Os homens são peritos no assunto. 
Voltando aos dias da febre,  os dois combinam que António vai na mesma à escola e tira os apontamentos para não se perderem da matéria. Assim acontece. Mas com uma inesperada nuance: a teia de sedução por parte da colega das aulas de português. Atraída pelo ar rufia de Kadhafi,  Cristina retém-no na sala a pretexto de esclarecer uma dúvida. Senhora  de fortes argumentos, entre os escorridos cabelos oxigenados e os generosos seios a saltarem do decote, convida-o a dar uma volta. Continuando a insistir no pretexto. Inexperiente mas já com ronha, ele percebe que as dúvidas, a existirem, não são da parte dela. Ainda equaciona uma desculpa mas a curiosidade é maior do qualquer outro pensamento. À mercê desta mulher bonita, astuta e com piquinho vulgar, a adrenalina dispara-lhe. De pernas bambas e sem encontrar as palavras adequadas, apenas gesticula em sinal de aprovação. 

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