Saturday, November 05, 2011



     Albertina, a mãe do rapaz, vem à porta. Ao deparar-se com a filha do garanhão, não disfarça o espanto. “O que será que a pineca quer?”, questiona-se esboçando um sorriso tão forçado quanto desdentado. “Desculpe, boa tarde, venho saber do Kadhafi, desculpe, do António… Tem andado desaparecido nos últimos dias…”, justifica. Mais medrosa do que vinha, perante a figura horrenda da mulher. Mas logo por detrás daquele rosto maltratado pela vida, surge o seu mais que tudo. Lindo. Despenteado. Corado, graças à  febre e à visita surpresa. “Tenho estado com gripe…”, explica quase tão acabrunhado como ela mas sem perder o sorriso malandro. A mãe - rude, ignorante mas nada parva - dá meia volta e recolhe-se. Percebe que está ali a mais. 
     Os dois ficam de olhar parado um no outro. Sem palavras. E sem necessidade delas. Os olhos falam o que é importante. As pulsações aceleram atarantadas. A vontade de rir é imensa. Quase tão grande como a felicidade que sentem. Foram apanhados desprevenidos pela piada do amor. Ao mesmo tempo. Soltam uma gargalhada. Ao mesmo tempo. O rosto dela está corado como o dele. E não é de febre.
     O tempo passa a correr. O dia faz-se escuro sem pedir licença. Antes que a família venha no seu encalce, Maria do Mar despede-se apressada: “Vou-me embora. Amanhã vais ao largo?” Ele diz que sim e dá-lhe a mão apertando a dela com força. Ela desprende-se, tímida de novo. Sorri sem jeito e corre beco fora. Vai feliz. Vai apaixonada.

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