Tuesday, November 22, 2011



“Precisamos de falar.” A frase, proferida em tom solene e sem sorriso, tem a força de uma sentença. Nunca o tinha visto assim. “Precisamos de falar! Desde quando avisas que precisamos de falar?”, inquire sem fazer uso das palavras. Alvoraçada. O instinto é a maior certeza que a mulher tem. E o instinto diz-lhe que vem aí a conversa mais difícil da sua vida. De coração angustiado, Maria do Mar congela o olhar nos olhos de António, que se baixam atrapalhados. Instala-se o silêncio. Comprido e com ruídos. Interrogações e exclamações da parte dela. Dúvidas e peso de consciência da parte dele. Agora não há como voltar atrás. Pior do que saber é não saber quando se sabe que alguma coisa se passa. Elementar, meu caro Khadafi. Estão sentados na esplanada junto ao liceu Jaime Moniz. Falta meia hora para a primeira aula do dia. Ele prossegue. “Acho que estou a gostar de outra pessoa… Ainda  gosto de ti mas preciso de um tempo…” Um tempo. A clássica desculpa dos homens, mesmo quando sabem que não há tempo que os valha. Melhor dizendo, que as valha. A chavelha experimenta uma espécie de náusea e, sem saber o que dizer, faz que sim com a cabeça. Deixando escapar duas lágrimas gordas, que lhe caem no colo. Mais duas. Outras duas. Por esta não esperava mesmo. O amor da vida dela já não a quer na vida dele. Ou não sabe se quer. Está a gostar de outra pessoa. Mas que outra pessoa? Como se atreve gostar de alguém que não ela? Como não percebeu nada? Estão sempre juntos. Que raio de brincadeira é esta? Hoje nem é o dia das pêtas. Não, não é. E os olhos comprometidos dele dizem que é verdade. O tempo acabou para os dois. Com a alma contorcida de dor, Maria do Mar sai a correr. Não sabe para onde vai. Tão pouco quer saber. Já nada importa. A aula, entretanto a começar, não tem importância. Estudar não tem importância. Nada de nada importa.  Apenas a dor que sente. A maior das dores que alguma vez sentiu.

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