Saturday, November 12, 2011


      Olham nos olhos um do outro à procura de aquietação. Os dois cúmplices, tímidos, agitados. Trocam um beijo fugaz e poucas palavras. Sentam-se no sofá e numa espécie de reflexo condicionado António liga a televisão. A voz histriónica da Júlia Pinheiro serve o propósito de descomprimir o ambiente. Pinta o silêncio, pelo menos. Hoje mais longo e bastante mais incómodo. Maria do Mar agarra o momento. Afaga-lhe os cabelos e vai à procura de um beijo. Mais dengoso do que o primeiro. As mãos dele envoltam-se na cintura dela e, como se tivessem vontade própria, escalam em direcção aos seios endurecidos. Quebra-se o gelo. Ele despe-a desajeitado. Ela despe-o com a mesmíssima falta de jeito. Sem querer, estão também despidos do atrevimento que os caracteriza. Nenhum ousa olhar o corpo nú do outro. António leva-a pela mão ao quarto minúsculo e à cama minúscula onde se deitam. Inflamados de excitação, roçam os corpos - ainda há pouco de criança - em movimentos frenéticos. Sabendo que tão cedo não gozarão de uma oportunidade destas. E como se quisessem pôr em dia o tempo que estiveram à espera e o tempo que hão-de esperar de novo. Com urgência de chegar ao fim. Porque a primeira vez é quase como se fosse a última. Mas apesar da explícita tensão sexual, os jovens amantes não se esquecem do preservativo e, já pouco intimidados, colocam-no a meias (entre risinhos). O corpo dele volta a juntar-se ao dela. O sexo dele procura o dela. Entra nela, paulatinamente. Puro instinto.  Como o recém nascido encontra o seio materno. António e Maria do Mar encontram-se.

1 comment:

Ticha said...

Lindoooooo