Thursday, November 24, 2011

Maria do Mar corre em direcção à avenida marginal, a Avenida das Comunidades Madeirenses, mais conhecida por Avenida do Mar. Nem de propósito. Devastada e torpe de raciocínio fica por ali horas e horas a deambular. Sem noção do tempo que passa. Até não lhe restarem forças e decidir sentar-se na ponta do Cais. A olhar o mar. Quase sem vê-lo. Mas a sentir a pulsação às ondas que beijam a muralha. De cara salgada e coração estilhaçado. “E agora?”, a pergunta surge-lhe vezes sem conta e sem respostas. Agora, nada. Nem aulas, nem autocarro de volta, nem casa. Não quer saber de nada. Agora apenas sabe a dor que sente. A dor que chega a ser física de insuportável. A dor para a qual não tem analgésico. A dor que só o tempo cura. Para ela,  eterna. Porque a dor é eterna quando a sentimos. Como o amor. 
O tempo continua a passar. Nada faz parar os ponteiros dos relógios. Nem a dor maior de todas. O da Sé Catedral marca meia noite e quarenta quando de repente olha para trás. O adiantado das horas desperta-a da comiseração em que se encontra. Toda a dor se faz acompanhar de uma espécie de auto-piedade. “Meu Deus! Tenho de ligar já para casa. Estão todos aflitos com certeza.  E agora, como saio daqui? A esta hora nem tenho autocarro…” Com este monólogo em alta voz, levanta-se num salto à procura de cabine telefónica. Porque a família está alarmada. E a dor que sente pode esperar.

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